Como estamos a tratar o plástico em Portugal?

Os intervenientes na ação conjunta e na conversa do Dia da Terra.

Os intervenientes na ação conjunta e na conversa do Dia da Terra.

A propósito do Dia da Terra 2021, data em que simbolicamente se assinalam também dois anos de Plástico Responsável Continente, promovemos, em parceria com o jornal Público, uma conversa com alguns dos principais intervenientes no combate à proliferação desnecessária do plástico em Portugal. Em jeito de apresentação dos convidados e de contextualização para o debate, recordamos algumas informações relevantes.

Os intervenientesna ação conjunta e na conversa do Dia da Terra

Pensar o plástico de forma colaborativa é um dos objetivos do Pacto Português para os Plásticos (PPP), que integra a rede global da Fundação Ellen MacArthur. Curiosamente, as entidades às quais estão ligados os convidados da conversa Plástico: utilização responsável para um futuro melhor são todas associadas do PPP.

Que medidas estão a ser tomadas pelo Governo?

Em representação do Ministério do Ambiente e Ação Climática, a secretária de Estado do Ambiente, Inês dos Santos Costa

A covid-19 também veio adiar a entrada em vigor de algumas das diretrizes governamentais que proíbem o uso de plástico descartável. Foi novamente alterada (por agora, para 1 de julho) a data que porá fim à utilização de plásticos descartáveis na restauração. A Lei n.º 76/2019, que “determina a não utilização e não disponibilização de louça de plástico de utilização única nas atividades do setor de restauração e/ou bebidas e no comércio a retalho”, tinha sido inicialmente pensada para entrar em vigor a 30 de setembro de 2020, antecipando a diretiva da União Europeia.  

No entanto, apesar dos entraves que a pandemia trouxe, o apoio essencial do Governo na criação do Pacto Português para os Plásticos representa, de certa forma, a vontade de acelerar a transição para uma economia circular no setor, unindo esforços entre todas as entidades envolvidas na cadeia de valor.

Coordenar uma iniciativa colaborativa – a origem do PPP

Pedro São Simão, coordenador do Pacto Português para os Plásticos (PPP), representa a Associação Smart Waste Portugal, entidade que lidera o PPP

Importa recuar uns anos e perceber a origem da fundação do PPP: em 2015 surge a Associação Smart Waste Portugal (ASWP), que tem, desde então, contribuído ativamente para “prevenir e repensar o uso do plástico, através de diversas iniciativas”, citando um artigo de opinião escrito pela presidente da ASWP, Luísa Magalhães, a convite do Plástico Responsável. Antes mesmo da fundação do PPP, Luísa Magalhães enfatizava o “necessário envolvimento de todos os agentes da cadeia de valor”, apostando na análise do ciclo de vida dos produtos, na inovação e “no design desde a conceção à produção, à utilização e à reciclagem”, acabando com “o conceito “fim-de-vida” e promovendo a reutilização, a reparação e a reciclagem”.

Com cada vez mais associados e de áreas distintas, a ASWP criou um grupo de trabalho específico sobre os plásticos na economia circular em 2018, o mesmo ano em que surgiria o primeiro Pacto Nacional para os Plásticos, no Reino Unido – ligado à rede global promovida pela Fundação Ellen MacArthur. A inspiração do exemplo internacional e os objetivos já bem definidos no âmbito do plástico tornaram possível a criação de um pacto colaborativo nacional.

Ser ambientalista é ser contra o plástico?

Susana Fonseca é membro da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável e coordenadora da área temática “Sociedades Sustentáveis e novas Formas de Economia”

Lutar pela conservação do meio ambiente é defender as opções mais sustentáveis. No caso das embalagens, o plástico não é, necessariamente, o material que deixa a pior pegada ecológica. Numa entrevista ao Plástico Responsável, Susana Fonseca defende a posição da Zero em relação aos descartáveis: “A Zero não é apologista da substituição de soluções descartáveis em plástico fóssil por soluções descartáveis noutros materiais”, uma vez que do ponto de vista da associação, “o maior problema está no facto de ser descartável”.

Defendem, pois, estratégias de prevenção como principal linha de atuação. “Há um conjunto alargado de produtos que tem de ser repensado”, dizia Susana Fonseca, referindo-se à forma como são criados e como é pensado o seu ciclo de vida. “É fundamental apostar mais na reutilização, reparação, partilha e uso em segunda mão”, ao mesmo tempo que “se penaliza fortemente as opções descartáveis”. Destacou ainda a possibilidade de implementar soluções com tara, promovendo a reutilização e garantindo a recolha de resíduos para reciclagem. À data da entrevista, ainda não tinha arrancado o projecto-piloto de depósito de garrafas de plástico.

A Sonae MC e a importância do setor na redução do plástico desnecessário

Pedro Lago é diretor de projetos de sustentabilidade e economia circular da Sonae MC

Qualquer ida ao supermercado implica, inevitavelmente, trazer embalagens de plástico. A grande questão é se podem ou não ser evitadas, quer pelo consumidor – se tiver outras alternativas disponíveis –, quer pelo próprio supermercado, evitando o plástico desnecessário. No caso do Continente, que pertence à Sonae MC, o ambiente sempre integrou o planeamento dos negócios. Nos últimos anos, à medida que o grupo foi apostando em projetos de sustentabilidade, surgiram grupos de trabalho específicos, nomeadamente sobre o plástico. É daí, e da definição de uma estratégia para o plástico, que o compromisso da utilização responsável evoluiu para uma plataforma online onde é possível conhecer melhor o trabalho que o Continente tem feito neste âmbito e explorar exemplos nacionais e internacionais de boas práticas.

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