“Eco Gender Gap” ou o importante papel da mulher no combate às alterações climáticas

São elas que assumem a maior parte dos trabalhos domésticos, não contabilizados no PIB. O padrão estende-se ao cuidado da "casa" planeta Terra
Mulher Natureza

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Cozinhar, limpar a casa e cuidar dos filhos (e muitas vezes também dos idosos) são tarefas que não contam para a medição do PIB (Produto Interno Bruto). Se entrassem nestas contas, Portugal assistiria a um incremento entre os 18,6% e os 36% do seu PIB.

Os cálculos são da CIG (Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género) e mostram que o trabalho doméstico e de cuidado não remunerado deve representar entre 40 mil milhões e 78 mil milhões de euros no nosso país, sendo que as mulheres asseguram mais de dois terços desse valor. 

Segundo a obra Mulheres Invisíveis, de Caroline Criado Perez, estes mesmos trabalhos ligados às “lides da casa” – e que não são pagos – podem chegar a 50% do PIB nos países mais ricos e atingir os 80% do PIB dos países mais pobres.

Agora, estudos focados na questão da abordagem à sustentabilidade de cada um dos dois géneros indicam que o padrão estende-se também até à preocupação com o planeta – que afinal de contas é a nossa casa. Ou seja: elas são elas que têm adotado mais mudanças na sua vida quotidiana para combater as alterações climáticas e proteger. 

“Eco-discrepância de género”

Segundo um estudo realizado pelo Fórum das Mulheres, as mulheres fizeram maiores mudanças nos seus hábitos pessoais para enfrentar as alterações climáticas do que os homens. O barómetro, que entrevistou quase 10.000 pessoas nos 19 países do G20, concluiu que as mulheres – mais frequentemente do que os homens – mudaram o seu comportamento para diminuir as suas emissões de dióxido de carbono através da reciclagem, da compra local e da redução do consumo de água e carne.

As mulheres também são mais facilmente motivadas do que os homens para diminuir as suas emissões de CO2, concluiu o mesmo estudo, Entre as razões apontadas pelas mulheres está o facto de as suas ações “ajudarem a melhorar o planeta” e também devido aos benefícios indiretos para as gerações futuras.

Este fenómeno foi apelidado pela empresa de estudos de mercado Mintel de “eco gender gap” – ou “eco-discrepância de género” -, numa pesquisa focada apenas no mercado do Reino Unido e que corrobora a ideia de que os homens são significativamente menos cuidadosos do que as mulheres no que diz respeito à manutenção de hábitos ecológicos.

Por exemplo, eles (67%) têm consideravelmente menos probabilidade do que elas (77%) de se comprometerem de forma regular com a reciclagem. Além disso, as mulheres (64%) têm maior probabilidade do que os homens (58%) de desligar o aquecimento quando não estão em casa.

No mesmo estudo, outras áreas de contrastes éticos entre homens e mulheres incluem a conservação da água, já que 30% dos homens tentam sempre usar menos água versus 38% das mulheres e o desperdício de alimentos, já que 27% dos homens frequentemente fazem compostagem de resíduos alimentares em comparação com 33% das mulheres.

Um outro relatório do Instituto Europeu para a Igualdade de Género mostra que as mulheres estão mais dispostas a gastar dinheiro em produtos amigos do ambiente ou a pagar mais pelos mesmos. Já os homens têm maior tendência para apoiar soluções como carros elétricos ou o uso da energia nuclear.

Não obstante serem elas as que assumem maior preocupação com o bem-estar do planeta. são os homens que mais contribuem mais para a emissão de gases poluentes. Eles são responsáveis por 16% mais emissões, em comparação com as mulheres, segundo um estudo sueco, de 2021, publicado no ‘Journal of Industrial Ecology’. Isto resulta sobretudo do facto de eles usarem mais o automóvel nas cidades, enquanto as mulheres recorrem mais aos transportes públicos. 

Mulheres no poder 

Hábitos como reciclar ou reutilizar o saco de compras já fazem parte do quotidiano de grande parte das mulheres, colocando-as na liderança do combate às alterações climáticas. No entanto, o poder empresarial e legislativo (com impacto para abrir caminho para reais mudanças na sociedade) ainda está sobretudo nas mãos de homens.

O relatório do Fórum das Mulheres observa também que os funcionários públicos de mais alto escalão nos ministérios que lidam com as alterações climáticas – energia, transportes e ambiente – são maioritariamente homens na Alemanha (79%), França (71%), Itália (78%) e Reino Unido (61%).

Em novembro de 2021, as ministras responsáveis pelas políticas do ambiente representavam apenas 26,8%, enquanto os homens correspondiam a 73,2%, segundo o Instituto Europeu para a Igualdade de Género.

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