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Entrevista a Susana Fonseca sobre a posição da ZERO.
Entrevista a Susana Fonseca sobre a posição da ZERO.
Susana Fonseca é investigadora do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, é ambientalista e integra a direção da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, onde acompanha as áreas de sociedades sustentáveis e novas formas de economia. Já falámos com ela sobre a perceção que os portugueses têm sobre o problema do lixo de plástico, a partir dos resultados do 2ª Grande Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal – no qual esteve envolvida. Nesta segunda parte da entrevista quisemos saber que soluções efetivas defende e ajuda a promover através da Zero.
Quais foram as principais conquistas da Zero desde a sua oficialização, em 2015?
É difícil falar em conquistas na área da sustentabilidade, visto que estamos perante processos e não elementos estáticos que, uma vez alterados, se mantêm. Temos trabalhado em diferentes áreas, desde a promoção de estratégias “zero resíduos”, onde uma das principais conquistas foi a retirada da intenção de investimento em incineração de resíduos urbanos no PERSU 2020+, ou ainda o alerta para a falta de credibilidade e escrutínio de dados sobre a caraterização da realidade portuguesa em diferentes áreas, com particular destaque para a área dos diferentes fluxos de resíduos.
Também na área das alterações climáticas temos procurado sensibilizar a sociedade e os decisores políticos e empresariais para a necessidade de construirmos uma sociedade neutra em carbono e estamos neste momento a advogar a criação de uma Lei de Base do Clima.
Em termos institucionais uma das principais conquistas foi o reconhecimento da Zero enquanto stakeholder relevante da sociedade portuguesa, com capacidade para influenciar as políticas em prol da sustentabilidade.
Sobre ações de sensibilização e cidadania ambiental: os portugueses estão mais “despertos” para estas questões?
Sempre que avançamos com ações no terreno, a adesão é muito positiva, pois há muitos cidadãos que estão conscientes dos problemas que enfrentamos e querem fazer parte da solução. A atividade mais recente que organizámos foi a Brand Audit 2019 – uma iniciativa mundial promovida pela coligação Break Free from Plastics, que visa chamar a atenção para o papel que as marcas têm no problema do plástico, devido à utilização desenfreada do descartável.
Sobre o plástico, qual é a posição da Zero? É completamente desnecessário ou devemos avaliar o impacto da pegada global das alternativas?
A posição da Zero é muito clara: defendemos estratégias de prevenção como principal linha de atuação. De forma mais concreta, acreditamos que há um conjunto alargado de produtos que tem de ser repensado – uns na sua existência, outros na forma como são criados e no seu desempenho ao longo do ciclo de vida – e que é fundamental apostar mais na reutilização, reparação, partilha, uso em segunda mão, ao mesmo tempo que se penaliza fortemente as opções descartáveis. A Zero é apologista das soluções com tara, no sentido de promover a reutilização, mas que podem também servir para garantir a recolha de resíduos para reciclagem, como está previsto que aconteça em Portugal em breve. A Zero não é apologista da substituição de soluções descartáveis em plástico fóssil por soluções descartáveis noutros materiais, uma vez que do nosso ponto de vista o maior problema está no facto de ser descartável.
A acumulação do lixo de plástico e seu impacto na natureza é rastreável e podemos evitá-lo. Mas o planeta está em alerta: o que é que precisamos de mudar já?
Precisamos de compreender que não podemos manter o mesmo sistema de produção e consumo que nos trouxe até aqui. Temos necessariamente de querer ter menos, desejar ter coisas com maior qualidade, que sejam duráveis, reparáveis, atualizáveis, reutilizáveis, que utilizem recargas ou possam ser reenchidas. Devemos promover a troca, o uso em segunda mão. Devemos cuidar do que temos e não apenas querer ter sempre mais e evitar a sobre-embalagem. E temos de ser mais exigentes com o Governo e com as empresas, para que contribuam rapidamente para a concretização deste novo paradigma.
Pare além desta alteração de enfoque, devemos apoiar as soluções que já estão ao nosso alcance: procurar comprar a granel, levar os nossos próprios sacos, não apenas nos supermercados, mas também noutras lojas (farmácias, livrarias, lojas de roupas, etc.); levar caixas quando se vai a uma loja de take away, comprar local e produtos da estação, preferir produtos de agricultura biológica, e andar a pé ou utilizar transportes coletivos.
Quer deixar algum apelo à ação?
O apelo mais importante, agora e sempre, acaba por ser o de concretizar o que defendemos na teoria. Por exemplo, um estudo recente feito pelo European Environmental Bureau (EEB) demonstra que o ciclo de vida completo dos smartphones da Europa é responsável por 14 milhões de toneladas de emissões por ano, que é cerca de 25% das emissões médias de Portugal nos últimos anos. Aumentar a vida útil destes equipamentos em apenas um ano economizaria mais de 2 milhões de toneladas de emissões, o que equivale e retirar 2 milhões de carros das estradas anualmente. Em suma, é nos detalhes do nosso quotidiano e através das nossas opções, em termos das decisões enquanto consumidor e da pressão que colocamos sobre as empresas e sobre os decisores políticos, que se definirá a rapidez com que conseguiremos inverter a espiral de destruição das condições de existência da espécie humana, em que atualmente nos encontramos.
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