Entrevista a Susana Fonseca, investigadora do ICS-UL.
Susana Fonseca é investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e fez parte da equipa que desenvolveu o 2º Grande Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal.* É ambientalista e integra a direção da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, onde acompanha as áreas de sociedades sustentáveis e novas formas de economia. Falámos com ela sobre a perceção que os portugueses têm do problema do lixo de plástico e da forma como estão dispostos a fazer parte da solução.
Os portugueses estão preocupados com o problema do lixo de plástico?
Os resultados mais recentes do Eurobarómetro demonstram claramente que os portugueses estão muito preocupados com o impacto que os plásticos podem ter na sua saúde e no ambiente, preocupação que se situa acima da média comunitária. Fica também muito claro que os portugueses, assim como os cidadãos europeus, apoiam maioritariamente que os produtos sejam desenhados para serem mais facilmente reciclados, os produtores e retalhistas reduzam a quantidade de embalagens de plástico, a recolha seletiva seja melhorada, haja mais sensibilização e seja instituída uma taxa pela utilização de itens descartáveis. Quanto aos microplásticos, segundo os dados do 2º Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal, também há preocupação com o tema, mas não parece estar ainda a afetar as decisões de compra quotidianas dos cidadãos – em particular no que ao pescado diz respeito.
De acordo com os resultados do inquérito, os portugueses parecem sensíveis à questão do plástico. Que mudanças dizem ter feito para reduzir o seu consumo?
Dos resultados é possível aferir que existe consciência de que as coisas não podem continuar como estão, que será necessário mudar a forma como olhamos para os produtos descartáveis, em particular os de plástico, área sobre a qual incidiram as questões. De facto, em resposta ao inquérito, os portugueses afirmam claramente já [colocarem em prática ou estarem disponíveis para] levar as suas próprias embalagens quando vão comprar peixe/carne (82%) ou frutas e legumes (90%), comprar produtos em embalagens reutilizáveis (83%) e produtos a granel (80%), e preencher embalagens de produtos de higiene e limpeza (71%). Agora, o importante é que sejam criadas as condições no terreno para que os cidadãos possam efetivamente aplicar estas práticas sustentáveis.
Sobre responsabilização em relação ao problema: os portugueses parecem assumir a sua parte enquanto consumidores ou apenas apontam o dedo a retalhistas e ao Governo?
Essa questão não foi diretamente abordada no inquérito, mas é inegável que os consumidores mais conscientes têm a vida dificultada na maior parte das lojas de venda a retalho, onde a maioria das opções disponíveis, quando não mesmo todas, assentam em soluções descartáveis, em particular no que diz respeito às embalagens. Ainda que os consumidores tenham a responsabilidade de gerir bem essas embalagens a partir do momento em que as adquirem – o que nem sempre acontece –, o facto é que será muito importante que os governos e as empresas providenciem, em condições atrativas, opções mais sustentáveis.
Apesar de ser uma análise mais qualitativa, com que perceção ficamos? Os portugueses estão mesmo preparados para mudar determinados hábitos ou será necessária a imposição de regras mais rígidas?
Dos resultados do inquérito fica muito claro que os portugueses apoiam largamente a intervenção do Estado na definição de políticas públicas que promovam hábitos mais saudáveis e sustentáveis. A clareza dos dados sobre este ponto permite afirmar que os portugueses querem que as políticas públicas facilitem as escolhas dos cidadãos pelas opções mais sustentáveis. Contudo, tal deve ser sempre acompanhado por uma boa fundamentação pública das medidas, bem como pela aplicação de incentivos para as soluções sustentáveis, e taxas e penalizações para as menos sustentáveis, no sentido de garantir maior apoio social à sua implementação e amplificar a sua aplicação.
*2º Grande Inquérito sobre Sustentabilidade em Portugal O estudo promovido pela Missão Continente e coordenado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, visa compreender o envolvimento dos cidadãos com o desenvolvimento sustentável e identificar, assim, as ações com maior potencial de aceitação. O inquérito, apresentado a 4 de setembro, teve como amostra 1600 famílias portuguesas.
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