Prémio Goldman pelo fim do plástico no paraíso

Kristal Ambrose foi agraciada com o “Nobel do Ambiente” pelo seu trabalho no combate à poluição por plástico nas Bahamas.

Kristal Ambrose foi agraciada com o Prémio Goldman, o “Nobel do Ambiente”, na edição de 2020, pelo seu trabalho no combate à poluição por plástico nas Bahamas.

Kristal Ambrose, de 30 anos, natural da ilha de Eleuthera, nas Bahamas, é a mulher que convenceu o governo do seu país a banir o plástico de uso único – sacos, loiça, palhinhas e recipientes descartáveis. Por essa e por outras conquistas, foi reconhecida com o Prémio Goldman, também chamado “Nobel do Ambiente”. 

Kristal Ambrose recolhendo resíduos plásticos.
Kristal Ambrose recolhendo resíduos plásticos.

“É o paraíso, até veres de perto. Aí vês a poluição de plástico que entra no Mar dos Sargaços.”, Assim se refere Kristal à sua terra natal, citada no jornal The Guardian. É bióloga marinha e encontra-se neste momento a aprofundar a sua formação na Suécia, estudando resíduos marinhos. A intenção é voltar às Bahamas e continuar a sua campanha de defesa do ambiente.

A história de Kristal Ambrose

Enquanto trabalhava num aquário, passou dois dias a tentar tirar plástico do organismo de uma tartaruga do mar. Foi o ponto de viragem na sua vida. Aos 22 anos, já marcada por esta experiência, foi convidada a juntar-se a uma expedição pelo Oceano Pacífico com o objetivo de estudar aquela que é conhecida como a Grande Ilha de Plástico do Pacífico, um aglomerado de plástico com mais de 680 mil quilómetros quadrados que ali se concentra devido às correntes marítimas. Os pedaços de plástico que ali podia observar eram de utensílios que ela própria usavda no dia-a-dia. Sentia-se responsável e decidiu agir. 

 Kristal e a lei que aboliu a utilização de plásticos descartáveis nas Bahamas

Em 2013, fundou o Bahamas Plastic Movement, através do qual organizou vários programas de sensibilização, principalmente para jovens. Era fundamental mostrar como o estilo de vida consumista estava a afetar de forma direta praias antes imaculadas, recifes de coral e toda a vida marítima. O projeto começou com uma dimensão local, mas fez-se ouvir nos corredores do poder da capital Nassau. 

Foto de grupo numa ação do Movimento Bahamas Plastic
Foto de grupo numa ação do Movimento Bahamas Plastic.

Em 2018, convenceu o Ministério do Ambiente a avançar com a proibição de plásticos de uso único e, em Janeiro de 2020, a lei, que ela ajudou a escrever, entrou em vigor. Mas este não foi um processo fácil. Kristal afirma que teve de combater um grande preconceito em relação à sua cor de pele e classe social. Embora nas Bahamas a maior parte da população seja negra, as elites de poder foram, durante muito tempo, dominadas por brancos.

Os prémios Goldman

Os prémios Goldman reconhecem o esforço de indivíduos na conservação da natureza, muitas vezes até com risco pessoal. É laureada uma personalidade por cada um de seis territórios: África, América Central e do Sul, América do Norte, Ásia, Europa, e Ilhas e Nações Insulares. A escolha é feita, de forma confidencial, por um júri internacional, a partir de uma lista criada por um vasto conjunto de organizações ambientais e ativistas.

Para além de honrar aqueles que fazem a diferença na proteção do meio ambiente, a intenção dos fundadores, Richard e Rhoda Goldman, foi criar um prémio que chamasse a atenção para a natureza internacional dos problemas ambientais e que pudesse encorajar outros ativistas. São enaltecidas ações em várias áreas, entre elas: proteção dos recursos naturais, conservação da biodiversidade, justiça ambiental e direitos dos indígenas. 

Prémios Goldman 2020: o papel dos indígenas na proteção da natureza e a guerra ao carvão

Para além de Kristal Ambrose, foram premiados mais cinco notáveis. Na edição de 2020, a importância do modo de vida de povos indígenas na conservação de territórios está em evidência. Nemonte Nenquimo, líder dos waorani (povo da Amazónia equatoriana), foi laureada pela forma como liderou uma campanha pelos direitos ancestrais da sua comunidade e pela defesa da floresta contra a exploração de petróleo. Leydy Pech, uma apicultora indígena maia, foi a grande responsável por uma ação que impediu a multinacional Monsanto de cultivar soja geneticamente modificada nos campos do México, e, por essa razão foi também reconhecida. No Mianmar, o premiado Paul Sein Twa liderou o seu povo num projeto de criação de um Parque de Paz na bacia do rio Salween, uma área de grande biodiversidade. Um Parque de Paz é uma área protegida cuja manutenção está altamente ligada à vida socioeconómica de uma comunidade.

Três dos vencedores dos Prémios Goldman
Da esquerda para a direita: Nemonte Nenquimo, Leydy Pech e Paul Sein Twa, três dos seis vencedores dos Prémios Goldman.

Do Gana, foi premiado Chibeze Ezekiel, que conseguiu travar a construção de uma central elétrica alimentada a carvão. Acabar com a altamente poluente indústria do carvão é também a batalha de Lucie Pinson, agraciada com o Prémio Goldman pela pressão que conseguiu exercer junto dos três maiores bancos franceses para cessar o financiamento a projetos e empresas de carvão.

Dois vencedores dos Prémios Goldman Chibeze Ezekiel, à esquerda, e Lucie Pinson, à direita.
Chibeze Ezekiel, à esquerda, e Lucie Pinson, à direita, dois dos seis vencedores dos Prémios Goldman.

Saiba mais sobre o trabalho destes ativistas no site dos Prémios Goldman.

Fotos: The Goldman Environmental Prize


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