Lobo ibérico: entenda a importância desta espécie

Com a redução da proteção do lobo na União Europeia, a espécie que habita Portugal e Espanha pode mesmo extinguir-se e trazer um desequilíbrio na Natureza. Entenda porquê

lobo ibérico

Os Estados-membros da União Europeia (UE) aprovaram em setembro a redução do nível de proteção do lobo. Esta era uma medida há muito defendida pelo setor agrícola e da caça, mas contestada pelos movimentos ambientalistas, que têm feito um trabalho de conservação da espécie em vários locais, frente ao seu risco de extinção. 

Embora a medida tenha ainda que ser aprovada pela Convenção de Berna sobre a Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa, que acontecerá em dezembro de 2024, esta votação abre “um precedente à desregulação da conservação, proteção e restauro da biodiversidade na União Europeia”, defende a WWF Portugal, organização que atua ao nível da proteção da vida selvagem, juntamente com a Associação Natureza Portugal (ANP).

“Na última década, a UE e os seus Estados-Membros investiram muito tempo e recursos para melhorar a coexistência entre as comunidades locais e as populações de lobos. Estes esforços são facilitados por várias plataformas regionais e da UE e por projetos bem-sucedidos financiados pelo programa LIFE que demonstram soluções mutuamente benéficas a curto e a longo prazo. A proposta de reduzir a proteção do lobo põe em causa todos esses esforços e investimentos. Será um desvio do objetivo da UE de alcançar uma coexistência harmoniosa entre humanos e grandes carnívoros”.

Bianca Matos, coordenadora de Políticas da ANPlWWF

Ao concretizar-se, o lobo deixa de ter proteção “estrita” e passa a ter um grau simples de proteção, o que facilita o abate e eliminação de indivíduos quando a população cresce demasiado.

Portugal, contra o que seria de esperar, votou também a favor desta medida, o que gerou preocupação entre as organizações ambientalistas que têm trabalhado nas últimas décadas para a proteção do lobo ibérico, subespécie do lobo cinzento que habita Portugal e Espanha. 

Esta é uma das espécies mais isoladas e ameaçadas em toda a península, sendo que em 2023 foi já declarado extinto na região da Andaluzia (sul de Espanha), devido à perda de habitat e abate dos animais, como apontam especialistas.

Apesar do posicionamento mostrado a nível europeu, o Ministério do Ambiente garantiu que pretende manter inalterada a política de proteção do lobo ibérico em Portugal. “A política protecionista do Lobo Ibérico é equilibrada, tem tido sucesso, funciona com um sistema de compensações eficiente e é uma bandeira das políticas de conservação da natureza em Portugal”, declarou a tutela, numa nota escrita à agência Lusa.

Apesar desta posição, a WWF Portugal acredita que será difícil Portugal “resistir à pressão para flexibilizar as suas normas ambientais, especialmente depois de outros países começarem a fazê-lo”. 

Além disso, WWF critica a falta de evidência científica que atesta que o abate destes animais reduza os conflitos das espécies com as comunidades rurais e animais de criação, como é objetivo da proposta. “De facto, pode até ser contraproducente e aumentar os ataques a animais de criação, uma vez que corre o risco de perturbar a estrutura social das alcateias”.

Em Portugal, estima-se que a população de lobos ibéricos varie entre 200 e os 400 indivíduos, representando cerca de 15% da população ibérica, de acordo com dados da Liga para a Proteção da Natureza. A espécie encontra-se distribuída apenas no Centro-Norte e Norte. A norte do rio Douro, encontra-se a maior população, que abrange cerca de 50 alcateias, em comunidade com a grande população do lado espanhol. A sul do Douro está a população mais fragmentada (10 alcateias) e isolada das restantes populações. 

Por que é tão importante proteger o lobo ibérico?

Segundo a WWF, a decisão da União Europeia para a diminuir a proteção do lobo ibérico, poderá ter como impactos:

  • desequilíbrio nos ecossistemas: os lobos ajudam a controlar as populações de herbívoros, como javalis e veados. Sem eles, estas espécies podem crescer sem controlo, não deixando a floresta regenerar;
  • aumento de doenças: os lobos caçam presas vulneráveis e doentes, o que ajuda a evitar a propagação de doenças suscetíveis de afetar pessoas e outros animais;
  • conflitos com humanos: quando há mais caças ao lobo, as tensões com as comunidades podem aumentar, uma vez que as alcateias ficam desestabilizadas;
  • prejuízos agrícolas e na pecuária: reduzir a proteção do lobo não vai diminuir os possíveis ataques a rebanhos. A solução está em medidas preventivas, explica a WWF;
  • aumento da caça ilegal: menos proteção pode incentivar práticas ilegais tornando a situação ainda mais difícil de controlar;
  • perda da biodiversidade e mudanças na cadeia alimentar: sem predadores, a saúde dos ecossistemas sofre e este desequilíbrio pode levar ao desaparecimento de outras espécies de animais e plantas.

Por último, esta decisão pode levar mesmo à extinção do lobo na Europa, “revertendo décadas de progresso em conservação”, conclui a WWF.

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