“O design biofílico faz com que as pessoas adotem comportamentos mais sustentáveis”

Falamos com Daniela Rodriguez, fundadora da Forest Homes, para perceber o que é a biofilia e que benefícios traz para o nosso ambiente

Daniela Rodiguez, Forest Homes

Já ouviu falar em design biofílico? É um conceito cada vez mais popular, sobretudo nos grandes centros urbanos, e passa por “trazer a Natureza para dentro” das nossas casas e empresas. O objetivo é proporcionar maior bem-estar através de uma reconexão com a Natureza, com ambientes naturais adequados à rotina de cada espaço.

Em Portugal, Daniela Rodriguez tem procurado difundir os princípios do design biofílico, através da Forest Homes, projeto que fundou em 2017 e que tem ajudado pessoas e empresas na configuração dos seus espaços interiores.

Nesta conversa, explica-nos tudo sobre a Forest Homes, sobre a biofilia e seus benefícios para a nossa saúde física, mental e emocional, assim como para a adoção de hábitos mais sustentáveis. 

A Forest Homes oferece soluções de design biofílico, como plantas auto preservadas, wallpapers naturais, produtos de decoração para casa que demonstrem preocupação ambiental e respeito pela Natureza. Mas, recuando ao seu princípio, o que é a biofilia?

A biofilia é a nossa ligação à natureza. A palavra vem do grego – “bio” significa vida e “philia” significa amor ou afinidade. Foi o biólogo Edward O. Wilson que, nos anos 1980, destacou esta ideia, argumentando que os humanos têm esta conexão enraizada, fruto de milhares de anos a viver em contacto direto com o ambiente natural.

Hoje, no entanto, vivemos cada vez mais afastados da natureza, rodeados por tecnologia e espaços urbanos. Passamos até 90% do nosso tempo dentro de edifícios, e essa desconexão afeta profundamente o nosso bem-estar. O stress, por exemplo, é considerado pela OMS a “epidemia de saúde do século XXI”, mas estudos mostram que a exposição a ambientes naturais pode reduzir significativamente os níveis de stress, melhorar a saúde mental e aumentar a produtividade.

É aqui que o design biofílico entra como uma solução poderosa: trazer elementos da natureza para os espaços interiores – luz natural, texturas orgânicas, plantas, ou até sons relaxantes como o de água corrente – para nos ajudar a sentirmo-nos mais conectados, tranquilos e focados.

Daniela Rodriguez, fundadora da Forest Homes

Quais são os princípios do design biofílico?

A biofilia apoia-se em três princípios para trazer mais natureza para o teu espaço:

  • Natureza direta: trazer mais elementos naturais para dentro de casa, quer sejam plantas naturais, materiais orgânicos, animais, fontes de água ou luz. A ideia é ter vida natural dentro de casa; 
  • Natureza indireta: diz respeito a tudo o que sejam formas, cores, materiais. As formas, por exemplo, devem ser mais redondas, porque na Natureza não temos uma configuração muito geométrica, mas sim formas mais fluidas e cores mais “terra”. Temos que jogar com estas ideias. 
  • Respeito pela Natureza envolvente e o ritmo de vida humano: se a pessoa tem um estilo de vida mais agitado, então vamos adaptar a vida no espaço para isso. Também se deve ter em conta o espaço envolvente. Ou seja, aqui em Portugal não vamos usar uma madeira que está na Rússia, por exemplo. Temos que ter em conta os elementos naturais que estão em volta.

Que benefícios traz o design biofílico?

Está provado que o contacto com a Natureza, como andar descalço, caminhar, tomar banhos de mar, comer produtos orgânicos, traz benefícios a vários níveis para a saúde do ser humano, seja física ou mesmo na regulação emocional e do stress. Trazer o design biofílico para dentro de casa significa criar espaços que reflitam o conforto e a harmonia que a Natureza nos proporciona. Não se trata apenas de colocar umas plantas, mas de transformar o ambiente em algo que realmente nos conecta ao mundo natural. 

Por exemplo, materiais como madeira, pedra ou tecidos orgânicos ajudam a criar um ambiente acolhedor e saudável. Cores terrosas, como verdes e azuis, podem trazer serenidade, enquanto formas orgânicas, como móveis arredondados e janelas amplas que maximizam a luz natural e as vistas para o exterior, são perfeitas para criar essa ligação. Mesmo pequenos detalhes, como o som de uma fonte de água ou texturas que remetem à Natureza, fazem uma grande diferença. Estes elementos não só reduzem o stress, mas também melhoram o nosso humor, o sono e até a qualidade do ar dentro de casa. É transformar o lar num verdadeiro refúgio, onde nos sentimos bem em todos os sentidos.

Porque decidiste criar a Forest Homes? Antes disso, como foste da Engenharia Química para o design biofílico?

Estudei Engenharia Química, mas também tenho um mestrado em Comunicação & Marketing. Na Engenharia Química, desperta-me o interesse pela reação química dos vários materiais, quando interagimos com eles. Além disso, também tenho um fascínio pela comunicação, pela parte visual e o design. 

Para mim, sempre foi importante contribuir para o mundo, de alguma forma, com o meu trabalho. Mas a um certo ponto da minha vida não estava a sentir-me realizada. Vivia em França, trabalhava na área da Engenharia Química e decidi fazer uma pausa, para perceber o que queria fazer da minha carreira. 

Fiz uma viagem e nesse momento estive em muito em contacto com a Natureza. Algo que é tão simples, mas que me fez muito bem. Ao estar rodeada de natureza, senti-me presente e percebi que passamos demasiado tempo em espaços interiores. É inacreditável: quase 90% do nosso tempo é passado em espaços interiores. 

Pelo efeito que teve em mim, apercebi-me que precisamos daquilo que os espaços naturais nos dão. E aí conheci o design biofílico, há oito anos, e comecei a estudar mais sobre isso. Nesse processo, fiz um estudo em Caracas [Venezuela], para o meu mestrado, sobre comportamentos sustentáveis. O objetivo era perceber o contexto em que vivem as pessoas que alinham os seus hábitos com os objetivos das políticas sustentáveis, relacionadas com meio ambiente, reciclagem, entre outras. Quem tinha um comportamento mais sustentável? Qual o perfil dessas pessoas? 

Um dos insights inequívocos desse estudo foi de que as pessoas que vivem mais perto da Natureza têm atitudes mais sustentáveis. Isso ficou demonstrado de forma clara. 

Forest Homes design biofílico
“Trazer o design biofílico para dentro de casa significa criar espaços que reflitam o conforto e a harmonia que a Natureza nos proporciona” – Daniela Rodriguez

Então, as pessoas que têm comportamentos mais sustentáveis são as que estão em maior contacto com a Natureza?

Sim, o contacto com a Natureza faz-nos ser mais sustentáveis porque, afinal, temos esse instinto desenvolvido ao longo da existência humana – de viver do que a Natureza nos dá, cuidando dela. Atualmente, com a vida moderna, desligamo-nos um pouco desse instinto. Daí esta crise ambiental que vivemos. Como podemos cuidar de algo quando estamos longe? Como podemos cuidar da natureza, que é isso ao fim ao cabo que representa ter comportamentos mais sustentáveis, se estamos longe dela e não a vemos?

Penso que os hábitos sustentáveis estão agora mais generalizados e as pessoas cumprem, mas por muito tempo notava que era difícil as políticas ambientais se tornarem mainstream, devido à falta de interesse. A Natureza não é algo sexy. É lindo, verde, mas cuidar dela dá trabalho e não tem glamour. É preciso separar o lixo, tentar reaproveitar materiais, por exemplo. Mas cada vez mais as pessoas entendem que têm de voltar a estes comportamentos, por uma questão de sustentabilidade e sobrevivência do planeta. 

Por isso, comecei também este projeto da Forest Homes. Para que as pessoas adiram ao design biofílico de forma consciente e façam esta reaproximação da Natureza no seu dia-a-dia.

Como a Forest Homes ajuda os seus clientes a configurarem um espaço consoante as regras do design biofílico? 

A nossa ideia está a ser afinada. Começamos por focar-nos muito em produtos inspirados em linhas, cores e materiais naturais. Agora estamos focados em informação. Os clientes podem, na nossa loja online, procurar produtos através das formas, tipo de material, emoção, entre outros aspetos que pretendem. A ideia é que a nossa plataforma seja cada vez mais intuitiva e completa, para que seja possível explorar e encontrar soluções para algo específico, com toda a informação sobre os vários materiais, cores e formas. : que efeitos têm em diferentes espaços. O objetivo é que o cliente possa escolher autonomamente o que é melhor para si. 

Que produtos podemos encontrar na vossa loja online?

Trabalhamos com marcas e autores localizados na Europa, na sua maioria. Fazemos a curadoria dos produtos, tendo em conta vários aspetos. Têm de ser inovadores e apresentar valor acrescentado, além de serem produzidos com produtos naturais. Por exemplo, produtos de cozinha feitos a partir do vidoeiro – esta madeira é anti-humidade, então acaba por ser uma mais-valia. Além de materiais naturais, privilegiamos produtos inovadores feitos de forma “amiga do ambiente”. Como os vasos de parede biodegradáveis que vendemos, que são 98% feitos à base de açúcar e papa, uma biomassa. São alternativas mais sustentáveis ao plástico.

Quem são os vossos clientes?

No início começamos a trabalhar com clientes individuais, mas agora estamos a trabalhar muito mais com empresas. Arquitetos ou designers de interiores, responsáveis por estabelecimentos, clínicas e restaurantes. Estes já vêm as vantagens do design biofílico para proporcionar um ambiente confortável aos clientes. Isso faz com que as pessoas voltem àquele estabelecimento.

A Forest Homes tem uma curadoria de produtos feitos com materiais naturais e sustentáveis

Vendem apenas para Portugal?

Não. Vendemos muito para outras partes da Europa, norte da Europa mais concretamente, e também já tivemos clientes nos Estados Unidos. Temos a possibilidade de receber encomendas de várias partes do mundo.

Qual o produto estrela da Forest Homes neste momento?

São os produtos que têm uma dimensão maior, para superfícies maiores. As paredes de plantas, por exemplo. Por isso, estamos também a pensar em desenvolver mais produtos neste sentido. Não só para paredes mas também teto e chão, por exemplo.

O chão das casas feito com produtos naturais é algo muito importante para o nosso bem-estar. Hoje temos muitas soluções de produtos mais naturais, que não só são mais benéficas para a nossa saúde como também melhoram o espaço a nível acústico e proporcionam mais qualidade ao ambiente em geral.

Esses são planos para o futuro a curto prazo?

Sim, queremos a curto prazo trabalhar a fórmula da nossa loja online, para que seja cada vez mais intuitiva e que as pessoas consigam encontrar o que procuram sem necessidade de ajuda. Queremos também passar a oferecer as tais opções para grandes dimensões, chão e teto, e chegar cada vez a mais empresas e projetos. Ao chegarmos a mais restaurantes e outros estabelecimentos, ganhamos também visibilidade e conseguimos assim entrar no subconsciente das pessoas, para que interiorizem os conceitos da biofilia e para que adiram. 

A longo prazo, pensam ter um serviço de consultoria, para clientes que queiram um projeto “chave na mão” de design biofílico para um espaço?

Será algo a médio ou longo prazo. Já tivemos alguns pedidos nesse sentido e gostávamos de oferecer esse serviço personalizado. Mas não sentimos ainda muita procura. No futuro, acredito que vá fazer sentido, de acordo com a minha visão. 

As paredes de plantas são dos produtos mais procurados pelos clientes da Forest Homes

Vejo que, depois de uma fase mais industrial, o design está a voltar a algo mais natural, mais conectado com a Natureza. Por isso, mais pessoas estarão interessadas no design biofílico. 

Como vês o conhecimento e adoção do design biofílico em Portugal? 

Em Portugal, assim como de forma geral, as pessoas ainda não compram os produtos porque são sustentáveis e amigos do ambiente, mas sim pelo preço, estética ou porque são funcionais. Esses são os drivers da compra ainda. O design biofílico não é tão conhecido. Mas as pessoas estão aos poucos a saber mais e interessar-se. 

Neste momento onde este tipo de design é mais conhecido é em cidades grandes, como Nova Iorque ou Londres – cidades grandes onde as pessoas não têm tanto contacto com a Natureza. Em Portugal, talvez por ser um país muito verde o design biofílico não tenha alcançado ainda muita gente. Mas por exemplo Lisboa é uma cidade que tem falta de árvores e o design biofílico pode ajudar nessa reconexão.

Acreditas que o design biofílico não será apenas mais uma moda?

Acredito que a sustentabilidade não é uma moda, veio para ficar. Com a urgência das alterações climáticas, esta preocupação e conexão com a Natureza é algo de que não há volta a dar. 

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