A camada de ozono e sua relação tóxica com o ser humano
Todos já ouvimos falar dela mas será que sabemos o que realmente é? Como se forma e como protege a vida no planeta? E como a atividade humana está a destruí-la?
A Portugal Bugs é a primeira marca portuguesa de alimentos à base de insetos e explica como esta proteína pode ser a solução para um planeta mais sustentável
Cerca de 8 mil milhões de seres humanos habitam a Terra neste momento. Nunca fomos tantos nem nunca aumentamos tão rapidamente. As previsões mais recentes da ONU apontam para um pico de 10.4 mil milhões que será atingido na década de 2080.
O crescente número serve de alerta para a pressão sobre os sistemas alimentares, que neste momento já se encontram em risco, afetados pelo grande desgaste dos recursos energéticos e da biodiversidade disponíveis.
A partir de 2025, estima-se uma escassez de 60 milhões de toneladas de proteína por ano (dados da FAO), se não houver mudanças ao nível dos estilos de vida e das dietas.
É neste sentido que o consumo de insetos apresenta-se como uma das respostas mais eficazes para a sustentabilidade da vida como a conhecemos. Estes bichos são uma fonte de proteína alternativa à carne cuja produção acarreta muito menos gastos, de tempo e de recursos.
Apesar de já ser uma constante na alimentação de muitas sociedades orientais, este tipo de proteína está aos poucos a ser introduzida na cultura ocidental, com uma mãozinha da indústria alimentar.
Inovações como farinha, snacks ou barras que integram a proteína de inseto, chegam ao mercado para incentivar à experimentação e para que se perca a estranheza face a este tipo de alimento.
Em Portugal, já é possível encontrar nas prateleiras do Food Lab do Continente, por exemplo, os produtos da Portugal Bugs, a primeira marca portuguesa de produtos à base de proteína de inseto e que foi a primeira a oferecer a nível ibérico este tipo de alimento.
Com produção em Esposende, a gama da Portugal Bugs engloba barras energéticas, chocolates, crackers, massa em espiral ou simplesmente insetos (inteiros) desidratados. Para uma maior aceitação, a marca tem desenvolvido produtos que dão à proteína de inseto sabores mais convencionais, como mel, amêndoa, figos, maça, canela, tomate ou orégãos.
A criação da Portugal Bugs começou ainda em 2016, quando o consumo de insetos não estava ainda autorizado em Portugal. Só em 2021 é que o regulamento que veio permitir a utilização de insetos para a alimentação humana entrou em vigor. Aí, quando as portas do mercado se abriram, Guilherme Pereira e Sara Martins, os fundadores da Portugal Bugs (na imagem principal), contavam já com 5 anos de investigação e desenvolvimento de uma gama pronta para chegar aos supermercados. Assim se tornaram os pioneiros em Portugal – e também em Espanha – deste tipo de alimento.
“A Portugal Bugs começou a partir de um desafio de final de licenciatura, para que fosse desenvolvido um alimento à base de inseto. Nesse processo, realizámos experiências com vários tipos de insetos e acabámos por detetar que as larvas de tenebrio molitor seriam as melhores para serem incorporadas em produtos alimentares, devido sobretudo às suas condições organoléticas”, explica em entrevista Guilherme Pereira.
No final deste projeto “bem sucedido”, Sara e Guilherme, enquanto colegas no curso de Engenharia Alimentar na Universidade do Porto, juntaram-se para produzir os seus próprios insetos, numa garagem.
“Iniciamos a produção de dois tipos de insetos, de grilos e larvas. Depois da legislação sair, quando já podíamos entrar para o mercado com os nossos produtos, paramos a produção de insetos, vendemos tudo o que tínhamos e investimos apenas em máquinas para transformar os insetos em produtos alimentares”, explica o sócio-fundador.
A criação de animais como a vaca, o porco, a ovelha e a galinha – a principal fonte de proteína da dieta ocidental – é um dos principais problemas da agricultura, tendo em conta a libertação de gases com efeitos de estufa e o consumo de recursos naturais, como a água.
Em comparação, para produzir a mesma quantidade de proteína, os grilos por exemplo necessitam de 6 vezes menos alimento que as vacas, 4 vezes menos que as ovelhas e 2 vezes menos que os porcos e as galinhas.
“Os insetos são animais focados em crescer e reproduzirem-se rapidamente. O que faz com que a produção de insetos seja mais sustentável. Gasta 5 vezes menos ração, 10 vezes menos água e emite quase 1000 vezes menos gases com efeito de estufa que a produção de outras proteínas de origem animal. Tudo isso é benéfico para o planeta. Depois temos a parte nutricional. É uma solução que nos dá uma boa fonte de proteína e muitos outros nutrientes, como ferro, zinco ou ômega 3″.
Guilherme Pereira, fundador da Portugal Bugs
“Os insetos estão a chegar às nossas mesas e são mais uma forma de introduzir nutrientes na nossa alimentação. Especificamente o Tenebrio molitor L., na sua forma desidratada, apresenta mais de 50% de proteína, cerca de 30% de gordura, incluindo gordura insaturada, e é fonte de fibra. Primeiro estranha-se, mas depois compensa a experiência”.
Sofia Dinis, nutricionista do Continente
Além disso, a criação de insetos pode ser uma atividade de reduzida tecnologia envolvida e que requer um baixo investimento.
“Além de alto teor em proteína, os insetos são 100% comestíveis. O que não acontece com outros animais, que necessitam de descarte de ossos e pele. Isto permite uma fácil produção de alimentos como farinha à base de insetos. Podem ser produzidos em indústria, verticalmente, dentro de agregados industriais, sem necessidade de desflorestar ou apanhar insetos na natureza“, sustenta Guilherme Pereira.
Tudo isto vem responder ao problema de produzir proteína de alta qualidade gastando a menor quantidade de recursos naturais possível, de uma forma rápida, industrial e com um desenvolvimento em princípio muito mais barato.
Estima-se em cerca de 1.900 as espécies de insetos comestíveis que existem no mundo e que são 2 mil milhões os consumidores regulares. Com cada vez mais países a legalizarem o consumo desta proteína, prevê-se ainda que o mercado de insetos comestíveis cresça a um ritmo de 24% por ano até atingir os 7,1 mil milhões de euros em 2030 (dados da Meticulous Research).
Em Portugal e também a nível europeu “ainda não existem muitos produtores de insetos”, segundo Guilherme Pereira. “Mas já há em Portugal empresas com volume de produção de inseto suficiente para fornecer outras empresas e que estão a desenvolver este mercado. Aqui no norte do País, temos por exemplo a TecmaFoods, de Vasco Macedo, que foi a primeira empresa portuguesa a ter autorização para vender matéria-prima, ou seja, a produzir os insetos para consumo humano”, dá conta o sócio-fundador.
A Portugal Bugs compra os seus insetos a fornecedores autorizados, a nível nacional e europeu para os transformar na sua fábrica em Esposende, com capacidade de produção de 80 mil barras energéticas por mês, entre os restantes produtos. Para termos uma ideia, as crackers da Portugal Bugs contém em cada pacote cerca de 440 larvas em pó.
A primeira marca portuguesa de alimentos à base de insetos prevê em 2024 lançar 3 novos produtos e alargar a novas categorias de produtos. Além disso, tem como objetivos chegar ao centro da Europa e reforçar a sua posição em Espanha, onde se tornou também a primeira marca a oferecer este tipo de produtos.
Apesar da adesão no nosso país ter sido “muito positiva”, a Portugal Bugs acredita que este tipo de produtos possa ser mais bem reconhecido nos mercados da Europa central, já que são produtos “de valor acrescentado superior e os consumidores têm uma maior consciencialização, já que conhecem este tipo de produto há mais tempo”.
Se assim acontecer, essa região junta-se à lista de países como Alemanha, Japão, República Checa, Grécia e Estados Unidos, onde pequenas lojas de conveniência vendem os produtos da Portugal Bugs. Em Portugal e Espanha já é possível encontrar os produtos na grande distribuição.
Guilherme Pereira ressalva ainda que devido ao trabalho de consciencialização dos consumidores que a Portugal Bugs tem feito, sobretudo a nível ibérico, hoje em dia já é “muito difícil” encontrar alguém que “não sabe que é possível ingerir insetos e que são proteicos e sustentáveis”. Pelo que, a maioria mostra-se disponível para provar estes produtos.
“Claro que ainda existe alguma dificuldade na introdução deste produtos na alimentação, porque culturalmente não estamos habituados a confecionar receitas com insetos. Mas o trabalho que temos vindo a fazer tem ajudado a desmistificar esta ideia. Desde 2018 notamos uma diferença nas reações das pessoas quando fazemos degustações em loja. Hoje estão muito mais abertas à experimentação”, conclui o sócio-fundador da primeira marca portuguesa de produtos à base de insetos.
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