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São herbívoros, nunca habitaram Portugal anteriormente, mas já fazem sucesso noutros países na luta contra as alterações climáticas
Uma manada de oito bisontes-europeus, nunca antes presentes em Portugal, foi translocada em junho de 2024 para a Herdade do Vale Feitoso, em Castelo Branco, vindos de reservas naturais de toda a Polónia. A operação inédita promete ajudar na prevenção de incêndios, aumentar o sequestro de carbono, combater a perda de biodiversidade e apoiar o crescimento do turismo da natureza.
Esta é mais uma medida da Rewilding Portugal, organização sem fins lucrativos criada em 2019 com a missão de promover a conservação da natureza através de medidas de rewilding (renaturalizar).
Enquanto membro da Rewilding Europe, a organização explica que esta operação de translocação de bisontes-europeus tem por base outros projetos que comprovam a eficácia destes herbívoros para a melhoria dos ecossistemas.
Os esforços da Rewilding Europe permitiram já o estabelecimento de populações de bisontes-europeus nos Cárpatos do Sul da Roménia e nas montanhas Rhodope da Bulgária. A rede está também a apoiar o regresso destes animais ao Delta do Oder (Alemanha e Polónia).
Relativamente à operação ocorrida na Roménia, um recente estudo que calculou que a população de bisontes europeus em liberdade pode ajudar a absorver e armazenar 54 000 toneladas de carbono por ano – o equivalente às emissões anuais de CO2 de quase 123 mil carros europeus. “Este impacto climático positivo reforça a importância de apoiar o regresso da vida selvagem às paisagens europeias, desempenhando o rewilding um papel fundamental”, lê-se na página da Rewilding Portugal.
Outros estudos realizados na América do Norte, relativamente ao bisonte americano semelhante ao europeu, mostram os mesmo resultados quanto ao aumento da captura de carbono através da vegetação e do solo, sendo os próprios bisontes podem também armazenar carbono nos seus próprios corpos.
Além disso, enquanto grandes herbívoros, os animais “diminuirão o risco de incêndios catastróficos, reduzindo a vegetação inflamável, criando corta-fogos naturais e abrindo áreas florestais, o que permite a entrada de mais luz e o crescimento de erva em vez de mato”. O problema dos incêndios, que se têm intensificado nas regiões mediterrânicas, “é agravado pelo facto de os arbustos invadirem áreas onde o gado desapareceu em resultado do despovoamento rural”.
A nova manada de bisontes a habitar em liberdade em Portugal vai partilhar a paisagem com outra manada, de Taurus, translocada para o Grande Vale do Côa em 2023, e poderá ser visitada pelo público mais à frente, assim que se aclimatar ao novo ambiente.
Segundo o líder da Rewilding Portugal, Pedro Prata, este é um “projeto-piloto”, uma vez que será a primeira vez que a organização vai gerir este tipo de animais. “É um processo de aprendizagem para nós também. Os membros da equipa receberão formação em gestão de bisontes”, dá conta.
Para o movimento de rewilding, o bisonte-europeu é uma “espécie-chave e emblemática”, tendo potencial para se tornar um “herói climático e da biodiversidade”. É neste sentido que as ações de rewilding na Europa têm apostado no regresso deste herbívoro às paisagens naturais, além de estarem a apoiar o crescimento da população desta espécie.
“Através do pastoreio, da forragem, do pisoteio e da fertilização, os bisontes ajudam a manter paisagens ricas em biodiversidade, constituídas por mosaicos de florestas, matos e prados, bem como por numerosos micro-habitats, que albergam uma vasta gama de espécies vegetais e animais”, explica a organização.
Historicamente, o bisonte-europeu nunca foi registado na Península Ibérica, mas foram já encontrados na região restos do extinto (há cerca de 10 000 anos) bisonte das estepes – do qual descendem todos os bisontes vivos atualmente. “Na Península Ibérica, o bisonte-europeu desempenha uma função ecológica semelhante à do bisonte das estepes, tendo estudos recentes demonstrado que a espécie se está a adaptar bem ao clima mediterrânico em Espanha, onde já foi introduzido”.
Estas operações servem também de preservação dos bisontes-europeus, que têm sofrido ameaças de extinção devido à caça e perda de habitat. Em 1927, restavam apenas 54 bisontes-europeus vivos, todos em cativeiro, e graças aos esforços de conservação, a espécie registou um aumento para os cerca de 9000 indivíduos.
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