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Cientistas descobrem que um litro de água engarrafada pode ter até 100 vezes mais microplástico do que estimado até agora
Nos últimos anos, o microplástico tem feito soar o alarme sob as consequências do excessivo consumo de plástico para o ambiente e para a saúde humana. Estas minúsculas partículas, formadas a partir da decomposição de plástico, estão a ser ingeridas por animais e seres humanos, ao mesmo tempo que contaminam solos e oceanos.
A dimensão do problema dos microplásticos expôs-se em recentes descobertas de cientistas, que detectaram a presença destas partículas em sangue humano, placenta, leite materno ou até mesmo nas nuvens.
Agora, um grupo de cientistas da Universidade de Columbia conseguiu detectar uma maior quantidade destes pequenos fragmentos de plástico em água engarrafada.
Em concreto, o estudo publicado em janeiro de 2023 na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mostra que um litro de água engarrafada pode conter em média 240 mil fragmentos de plástico, uma quantidade entre 10 a 100 vezes superior ao que se estimava até aqui.
Para este estudo, os cientistas recorreram uma inovadora tecnologia que consegue detetar até os nanoplásticos – fragmentos de plástico ainda mais pequenos que os microplásticos.
Assim, a investigação envolveu três marcas de água engarrafada vendidas nos Estados Unidos, trazendo uma informação mais clara sobre a quantidade de plástico presente nestes produtos – até aqui apenas estimada.
Além disso, o estudo pode abrir caminho para a análise mais precisa da toxicidade destas partículas de plástico, capazes de atravessar tecidos de órgãos e entrar na corrente sanguínea. Isto porque, até agora, ainda não são claros os efeitos destes pequenos resíduos no nosso corpo.
Quer os vejamos ou não, estão lá. Portanto, é melhor sabermos em que quantidade e o que são. Mas eu própria, como cientista, gostaria de ter mais dados em termos do estudo toxicológico para realmente saber o quão prejudiciais são para o meu próprio corpo.
Naixin Qian, investigadora e co-autora deste estudo
Para termos uma ideia, os microplásticos são menores que um grão de arroz, podendo medir no máximo 5 milímetros. Já os nanoplásticos medem até 0,001 milímetro (1 micrómetro). Em comparação, veja-se que os glóbulos vermelhos presentes no nosso sangue têm entre os 6 e os 8 micrómetros de diâmetro.
Ambos, os micro e os nanoplásticos, são os polímeros com maior impacto no ambiente, uma vez que podem absorver compostos tóxicos, como hidrocarbonetos e metais pesados. Ao conseguirem atravessar tecido e alcançar a nossa corrente sanguínea, estas partículas podem transportar estes compostos tóxicos para qualquer parte do nosso corpo.
Estima-se que, desde 1950, tenham sido gerados por atividade humana mais de 9 mil milhões de toneladas métricas de plástico. No entanto, apenas 9% desses resíduos seguiram para reciclagem, enquanto 19% foram incinerados. A grande maioria (72%) acaba em aterros e no ambiente, onde se decompõem, contaminando a fauna e a flora que nos alimentam.
Apesar dos riscos para a saúde humana e de muitos governos, como o português, já proibirem os plásticos de utilização única, a produção de plástico não dá sinais de abrandar. Pelo contrário, metade do plástico alguma vez produzido por atividade humana, foi produzida nos últimos anos. A produção anual de plástico em todo o mundo passou dos 2 milhões de toneladas métricas em 1950 para as 390 milhões de toneladas em 2022.
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