Tomorrow Summit 2023: que caminhos seguir para uma sociedade mais sustentável?

O primeiro dos dois dias da Tomorrow Summit ficou especialmente marcado pelo tema da sustentabilidade. 
Tomorrow summit

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O Super Bock Arena recebeu nos dias 7 e 8 de novembro a sexta edição do Tomorrow Summit, um evento promovido pela Federação Académica do Porto e que representa atualmente o maior contributo dos estudantes para envolver a sociedade civil na discussão sobre um futuro mais competitivo. 

A edição de 2023 teve como mote os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e contou com a presença de figuras políticas e ligadas à educação e ao mundo empresarial, para falar sobre o desenvolvimento económico e social do país. O primeiro dos dois dias da Tomorrow Summit ficou especialmente marcado pelo tema da sustentabilidade. 

Caminhos para a sustentabilidade

“Uma cidade sustentável usa os seus próprios recursos para fazer face às necessidades da população, sem comprometer as gerações futuras”, foi a conclusão a que chegou Marta Brenha,  mestre em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, através do seu trabalho de investigação “Why are some cities more ‘smart sustainable’ than others? – The Portuguese panorama”. 

A dissertação fez com que Marta vencesse a última edição do prémio Economia do Porto, atribuído pela Câmara Municipal do Porto, devido ao seu interesse para a economia da cidade. Discursando numa mesa redonda dedicada aos “Caminhos para a Sustentabilidade”, no palco principal da Tomorrow Summit, Marta Brenha lembrou ainda que numa cidade inteligente e sustentável, mais do que recorrer à tecnologia para atender às necessidades, há  sobretudo que formar e valorizar o capital humano.

Sentado na cadeira ao lado, Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, acrescentou que sustentabilidade “passa por desenvolvermos o nosso território e zona envolvente através de conceitos de proximidade e mobilidade urbana”. O responsável ressalva que, neste sentido, a Câmara do Porto tem feito um esforço em áreas que vão desde o reaproveitamento de resíduos orgânicos para a fertilização dos solos à mudança para uma rede de “transportes mais limpos”, nomeadamente, através do investimento na expansão do Metro, “crucial para a descarbonização” da cidade. 

“Nunca tivemos tanto investimento em transporte público”, frisou o autarca, lembrando que o município está a trabalhar para que até 2027 o transporte público na cidade seja maioritariamente “elétrico ou movido a biometano produzido na cidade”. 

O Porto é uma 100 cidades europeias a liderar a iniciativa Cities Mission – “Cidades Inteligentes e com um Impacto neutro no Clima”. O programa da Comissão Europeia reconhece as cidades comprometidas em atingir a neutralidade carbónica até 2030, garantindo um apoio financeiro, através de um pacote de 360 milhões de euros por via do Horizonte Europa, aplicado durante os anos de 2022 e 2023, além de prestar apoio técnico e legal. 

Entre cerca de 400 cidades candidatas, o Porto foi selecionado, no último ano, para integrar o Cities Mission, “devido às iniciativas de ambição climática já iniciadas àquela data, como é o caso do Pacto do Porto para o Clima”, lançado no início de 2022, frisou o Filipe Araújo que, além de vice-presidente, é também responsável pelos pelouros da Inovação, Ambiente e Transição Climática na Câmara Municipal do Porto. 

O Pacto do Porto para o Clima conta atualmente com mais de 600 subscritores, entre os quais a Federação Académica do Porto, organizadora da Tomorrow Summit, e a Lipor, que tem contribuído para a recolha e reaproveitamento de biorresíduos, juntamente com o município. 

“Muitos não fazem ideia de que 37 por cento dos resíduos que produzimos em casa são orgânicos. Atualmente, no Porto, estamos a recolher estes resíduos para produzir compostos que combatem o empobrecimento dos nossos solos”, deu conta Filipe Araújo. 

Miguel Pinto, diretor-geral da Continental, sugeriu que, no mundo automóvel, o futuro reserva uma nova abordagem dos negócios sob a premissa “sustainability as a service”. Impulsionados pela condução autónoma e pelos incentivos à descarbonização, “os grandes produtores de carros vão passar a vender sobretudo serviços”, centrados, por exemplo, na partilha de veículos. “Sabemos que hoje os veículos privados estão parados durante a maior parte do dia. Funcionam em média pouco mais de uma hora diariamente”. O diretor-geral da Continental sugere que, no futuro, as empresas do setor estarão focadas na rentabilização dos veículos. Mecanismos que valorizam os condutores pelas emissões que evitam foi outro dos exemplos dados por Miguel Pinto, a serem incorporados pela indústria automóvel face a um futuro mais sustentável. 

(Des)equidade intergeracional 

A tarde do primeiro dia da Tomorrow Summit arrancou com o tema da (Des)equidade intergeracional. Em representação das gerações mais jovens, a eurodeputada Lídia Pereira, que é também Presidente da YEPP (Youth Organisation of the European People’s Party) e relatora do Parlamento Europeu para a COP28, sentou-se à mesa com o “boomer” Álvaro Beleza, presidente da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social). 

Considerando a sua geração “mais envolvida com política” que a atual, por ter vivido a 25 de abril de 1974, Álvaro Beleza incentivou os jovens a um maior arrojo e posicionamento nos lugares de decisão. “Precisamos de mais jovens líderes, na política e na economia. É importante enrobustecer a nossa economia com uma indústria de maior escala”, defendeu. “Pode ser controverso mas: é preciso mais desobediência”, afirmou o presidente da SEDES, esclarecendo que gostaria de assistir a uma maior mobilização social em setores como o da energia ou apoios ao empreendedorismo. “É inadmissível, por exemplo, um país como Portugal não ter hoje em dia painéis solares em todas as casas, acessíveis a toda a população”, aponta. 

Lídia Pereira, por sua vez, lembrou que Portugal, apesar de ter entrado na União Europeia em 1986, mantém-se ainda na lista de países que beneficiam do Fundo de Coesão (reservado aos Estados-Membros com um Rendimento Nacional Bruto per capita inferior a 90% da média da comunidade europeia). A eurodeputada recordou que o crescimento sustentável do país passa por diversificar a sua economia com aposta na indústria, agricultura e outros setores “além do turismo”, sublinha. 

Neste momento, segundo a programação 2021-2027, o Fundo de Coesão da União Europeia atribui-se a investimentos relacionados com:

  • ambiente, especificamente direcionados para o desenvolvimento sustentável e energia com benefícios ambientais;
  • redes transeuropeias no domínio das infraestruturas de transportes;
  • assistência técnica.

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