Aproveitar os descontos da Black Friday sem culpas? Movimentos Green Friday e Giving Tuesday podem ajudar
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A tragédia ambiental que atingiu as praias espanholas, da Galiza até à fronteira com França, traz também consequências para Portugal
Em meados de dezembro de 2023 começaram a surgir nas praias da Galiza as primeiras bolas de plástico, que vieram depois a multiplicar-se por milhões, ao longo de toda a costa da Galiza até às Astúrias e à Cantábria.
Aqueles foram os primeiros sinais do maior desastre ambiental que a Galiza viria a assistir desde o trágico derrame de óleo em novembro de 2002, causado pelo naufrágio do petroleiro MV Prestige.
As primeiras evidências já indicavam que as pequenas partículas de plástico pertenciam a um dos seis contentores que o navio TOCONAO (com bandeira da Libéria) perdeu no dia 8 de dezembro, a cerca de 80 quilómetros a oeste de Viana do Castelo.
Estimam-se que caíram ao mar toneladas destas bolas de polímeros sintéticos (pellets), que não passam de microplásticos – com menos de 5 milímetros – utilizados para fabricar outros produtos plásticos, como garrafas, recipientes ou sacos. Cerca de 70 sacos com 25 kg pertenciam à empresa Bedeko Europe, sediada na Polónia, segundo apontou a associação Noia Limpa.
O problema é que com a força do mar, os sacos abriram e espalharam as minúsculas bolas de plástico ao longo do mar e areia. E, dado o seu pequeno tamanho, peso e cor clara, torna-se muito difícil recolher todas estas partículas.
Desta feita, a situação gerou um conjunto de reclamações de cidadãos e associações que se queixam da falta de ação dos governos regional e nacional na recolha destes materiais.
Em declarações à Renascença, o hidrobiólogo Bordalo e Sá aponta para o risco de estas partículas de plástico darem à costa portuguesa, por “altura da Primavera”, caso não sejam recolhidas do mar.
“Vão-se agarrar algas, bactérias, vírus que vão libertar odores e muitos peixes vão ingerir as partículas de plástico a pensar que é comida. O peixe ingere e daí até sermos nós a consumir é um instante”, alerta o especialista.
Lembre-se que pellets são uma mistura de produtos químicos que podem absorver toxinas químicas e outros contaminantes.
A associação ambientalista Adega afirma que estas partículas podem “representar uma nova agressão poluente” na costa galega e afetar “gravemente” a população, uma vez que a economia local está muito assente no marisco e na pesca.
Pellets têm um impacto comprovado nos organismos a diferentes níveis, a contaminação é evidente e tem repercussões importantes. Gera problemas de ingestão, sufocamento e diversos problemas associados. Ingeri-los pode causar lesões internas e complicações graves na vida selvagem.
Oscar Esparza, especialista em áreas marinhas protegidas da organização WWF em Espanha
A descarga de pellets no mar não é novidade. De acordo com o especialista da WWF, todos os dias são despejadas “milhões de toneladas” destas partículas nas águas mundiais.
Só na Europa, mais de 165 mil toneladas de pellets são perdidas no ambiente todos os anos durante o processo de fabrico e transporte. O que fez a Comissão Europeia apresentar, em outubro passado, um projeto para reduzir em 74% a descarga de pellets no ambiente.
Oscar Esparza sublinha ainda que “a exposição aos raios ultravioleta faz com que estes microplásticos se tornem cada vez mais pequenos até se tornarem nanoplásticos, impossíveis de extrair da água”. Tornam-se tão pequenos que penetram no tecido celular e acumulam-se na cadeia alimentar, como já provaram vários estudos recentes.
A presença de microplásticos no mar está ainda associada à morte de vida marinha por ingestão, envenenamento por produtos químicos ou a transportar vírus, bactérias e substâncias nocivas.
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