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Açores mostram ao mundo o potencial desta planta.
Açores mostram ao mundo o potencial desta planta.
Uma planta invasora cujos resíduos se podem transformar em biocompósito? A conteira, planta originária dos Himalaias e que prolifera nos Açores, tem sido trabalhada para conseguir uma solução sustentável que substitui a utilização de plástico descartável em alguns objetos do dia-a-dia, como copos e pratos. A planta de flor amarelada, comum nas paisagens açorianas, é apreciada por quem visita o arquipélago e há até quem coma as flores, apesar da ameaça que constitui para a biodiversidade da região.
Helena Vasconcelos é uma das investigadoras que integra o grupo de trabalho da Universidade dos Açores que tem estudado as propriedades da conteira. Conversámos com ela a propósito das características da planta e das possibilidades de aproveitar os resíduos do seu desbaste para conseguir uma matéria orgânica, biodegradável e com potencial para fazer peças utilitárias que respondam às necessidades locais.
Uma solução alinhada com a Economia Circular
Quando foi para os Açores, há cerca de 20 anos, Helena Vasconcelos, licenciada em Engenharia Física e dos Materiais, não imaginava que seria nessas ilhas que iria encontrar o material que lhe daria um dos maiores desafios da sua carreia de investigação. Nos Açores, onde a natureza e o mar privilegiam a investigação nas áreas das ciências naturais, foi com a ideia de que “sem equipas multidisciplinares não há inovação”, que Helena Vasconcelos se afirmou no sistema científico açoriano: “Desde logo percebi que poderia aliar a Física e os Materiais com a Biologia”, refere. Atualmente, é professora auxiliar na Universidade dos Açores e participa em vários projetos de investigação.
Nos Açores, o aproveitamento da conteira ganhou notoriedade sobretudo pela adequação à realidade local, “por ser realmente relevante para a região.” Continuou a colaborar com os colegas do Instituto Superior Técnico, onde se doutorou, e a estabelecer parcerias com Universidades estrangeiras. Helena tinha participado numa conferencia internacional sobre fibras naturais, quando oportunamente Roberto Amorim apareceu na Universidade dos Açores, apresentando-se “como uma pessoa preocupada com aspetos relacionados com a poluição e com o aproveitamento de resíduos”. E foi Roberto, um cidadão comum, autodidata, “que teve a visão de que aquela planta, a conteira, podia trazer algo de bom.”
Helena Vasconcelos não conhecia a conteira nem as consequências que uma planta invasora poderia ter no ecossistema. Confessa que “fomos à descoberta de aspetos da Biologia que eu não domino”. “Foi o Roberto que apareceu na Universidade com esta ideia de reaproveitar os resíduos da planta, que é cortada com frequência para controle.”
A conteira terá chegado aos Açores como planta ornamental e apenas uma das ilhas do arquipélago parece não a ter. “Rapidamente fugiu dos jardins. Não tem predadores naturais, a semente pega muito facilmente e o clima húmido ajuda à proliferação da planta”, explica Helena Vasconcelos. “A ideia do Roberto era aproveitar os resíduos do desbaste da conteira, na lógica da economia circular.” Começaram a trabalhar a ideia em 2014 mas só em 2018 conseguiram financiamento para desenvolver a investigação. Físicos, biólogos e engenheiros, além do visionário Roberto Amorim, compõem a equipa que em 2017 fundou a Innovation Green Azores, um consórcio cujo propósito é viabilizar a promoção das fibras de conteira e valorizar produtos endógenos.
De planta invasora a biocompósito: como?
Helena Vasconcelos não hesita em afirmar que “a planta tem muito potencial” mas é aos caules e às folhas que têm dedicado especial atenção. “Trituramos o caule sem extrair diretamente as fibras e trituramos as folhas, que dão origem a dois granulados: uma massa e uma espécie de farinha à qual juntamos um ligante natural.” É a partir dessa receita que têm feito protótipos de copos, pratos e talheres. “Não é algo semelhante ao plástico com outra composição, é uma alternativa ao plástico que pode vir a ter funções que atualmente são desempenhadas por peças em plástico.”
“Estamos ainda a fazer algumas experiências para perceber qual a mistura ideal, qual a granulometria mais adequada e qual a quantidade de ligante, por exemplo.” Testes de resistência, flexão e durabilidade são também essenciais nesta fase.
Questionada sobre a decomposição do material, Helena Vasconcelos explica que “sabemos pela nossa experiência do quotidiano que é biodegradável ao fim de 2 meses. Se a matéria for exposta ao ar começa a deteriorar-se, mas ainda não temos um ensaio que cientificamente nos diga que aquela peça se deteora ao fim de x dias e em determinadas condições.” Uma vez que o material é composto por matéria orgânica, acaba por se degradar naturalmente. Relembra também que “deixar uma peça destas ao ar nos Açores pode ser completamente diferente de a deixar ao ar numa qualquer outra parte do país.”
“A nossa perspetiva de futuro é abrir uma fábrica nos Açores”
Sobre a possibilidade de industrializar a solução, Helena Vasconcelos assegura que “a nossa perspetiva de futuro é abrir uma fábrica nos Açores.” O financiamento do Programa Portugal 2020, conseguido através do incentivo do Governo Regional dos Açores, foi obtido para a investigação. “Numa próxima fase, a ideia é investir na industrialização, que é o que as pessoas e o Governo Regional nos têm pedido.”
Os protótipos de copos que têm conseguido produzir com esta matéria poderão dar resposta a uma necessidade imediata do turismo do arquipélago. “Com esta solução conseguimos também diminuir algumas importações de plástico descartável que é usado nos Açores no dia-a-dia para provas de gastronomia e provas de licores, por exemplo” , um consumo apontado com significativo.
“Quando este material termina a sua vida útil, volta à terra e fertiliza a terra. É um ciclo perfeito que se estabelece”, conclui a investigadora. Enquanto a indústria procura o melhor caminho para comercializar este tipo de soluções, os Açores mostram ao mundo o potencial desta e de outras plantas para substituir o uso de plástico descartável.
Conteira
Hedychium gardnerianum é uma herbácea, perene, pertencente à família Zingiberaceae. É uma planta rizomatosa que atinge até 4 metros de altura. Originária dos Himalaias, é considerada uma espécie invasora na Nova Zelândia, Havai e Açores, onde se tem vindo a tornar um problema crescente para a vegetação nativa. Esta planta é frequentemente usada como ornamental em muitos parques e jardins, sobretudo em situações de maior humidade. Prefere clima quente, mas tolera regiões temperadas que tenham geadas ligeiras e ocasionais. É uma planta tolerante a vários tipos de solos, desenvolvendo-se muito bem em situações de boa exposição solar mas tolerando sombra parcial. Tem também muito poucas exigências de manutenção, não necessitando de poda.
Fonte: Jardim Gulbenkian
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JOSE SILVA diz:
Acabo de visitar S. Miguel e estava seriamente impressionado com este fenómeno invasor!
Fico muito satisfeito por ter descoberto esta abordagem e acredito nos benfícios que trará para todos.
Parabéns aos envolvidos e votos de rápido e grande sucesso!