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Apelidado de “Arca de Noé dos Vegetais” ou “o Bunker do Juízo Final”, o Banco Mundial de Sementes situa-se num arquipélago gelado do Ártico
Uma antiga mina de carvão, dentro de uma montanha gelada do arquipélago norueguês de Svalbard, foi o local escolhido para albergar mais de um milhão de amostras de 5.841 espécies diferentes, no sentido de as proteger da extinção. É a 150 metros de profundidade que está o Banco Mundial de Sementes, protegendo uma história agrícola de 13 mil anos.
O projeto que agora celebra o seu 16º aniversário foi pensado para reforçar a “segurança face às ameaças que enfrentam os bancos genéticos em todo o mundo”, salvando a humanidade “em caso de evento apocalíptico ou catástrofe global”, como comenta Cláudia Pascoal, professora da Universidade do Minho e diretora do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), em entrevista ao Expresso. Lá dentro, sementes e plantas de todos os continentes estão congeladas a -18º.
A partir de Portugal, chegam a este “bunker” global entregas regulares, a partir do Banco Português de Germoplasma Vegetal. O português é um dos 1.700 bancos mundiais que contribuem para este projeto no Ártico.
Localizado em Braga, este banco é uma das maiores infraestruturas de conservação de recursos genéticos do mundo, com uma coleção de mais de 47 mil amostras de 150 espécies e 90 géneros de cereais, plantas aromáticas e medicinais, fibras, forragens, pastagens e culturas hortícolas, de acordo com os dados apurados pelo Expresso.
Ana Maria Barata, coordenadora do banco nacional explica que Portugal preserva uma das maiores coleções de variedades de milho do planeta, com três mil variedades. Não obstante, o país também é referência no feijão e no trigo e um “centro de diversidade” no que respeita às couves. No sentido contrário, Portugal já assistiu à extinção da cenoura, por exemplo, pelo que as que cultivamos agora são um “híbrido”.
Quanto ao Banco Mundial de Sementes, o projeto torna-se imprescindível numa altura em que se estima que metade das plantas que conhecemos enfrentam extinção, devido em grande parte à atividade humana, como a agricultura extensiva, a poluição ou os conflitos armados.
Por exemplo, desta “arca” situada na Noruega já saiu material para a Síria, depois de a guerra civil ter destruído o banco de germoplasma de Allepo.
Também os bancos genéticos no Afeganistão e no Iraque foram destruídos, “juntamente com todo o material cuja cópia não foi guardada em Svalbard, e o banco genético das Filipinas foi danificado pelas cheias na sequência de um tufão e, posteriormente, por um incêndio”, explica Cláudia Pascoal, ao Expresso. Ao mesmo tempo, a vasta coleção da Ucrânia foi deslocalizada para local desconhecido depois da invasão da Rússia.
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