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Das Filipinas a Santa Maria de Lamas, um retrato da realidade.
Em 2018, o fotojornalista Mário Cruz registou imagens inacreditáveis do rio Pasig, em Manila, capital das Filipinas, onde o lixo é tanto que é possível caminhar sobre a água. Em declarações ao Público, Mário Cruz confessou-se de tal forma impressionado pela realidade que decidiu que “a levaria, guardada em fotografias, ao maior número de lugares possível”.
As fotografias já estiveram expostas em Macau, Roma e Bruxelas. Entre junho e outubro, antes de partir para a Colômbia, a exposição passou pelo Museu de Santa Maria de Lamas, em Santa Maria da Feira, onde as fotografias estiveram “emolduradas” por uma tonelada de lixo de plástico. Apesar de a exposição ter terminado, é possível fazer uma visita online. Susana Ferreira, diretora do Museu, contou-nos como foi a experiência.
De Mário Cruz, há 25 fotografias, às quais só é possível chegar depois de atravessar plástico e mais plástico, uma reprodução do cenário onde foram tiradas. Em destaque, a imagem de uma criança deitada num colchão rodeada de lixo de plástico, num rio cuja água nem se vê – fotografia que arrecadou o 3º lugar da categoria Ambiente no World Press Photo 2019. De associações, escolas, lares, da própria equipa do MSML e da organização do Basqueirart 2021 (a exposição aconteceu no âmbito do festival), existe uma tonelada de lixo de plástico.
Susana Ferreira, diretora do museu, contou-nos que a montagem começou cerca de um ano antes da inauguração da exposição. Depois da criação das estruturas que serviriam de base às “cascatas” de lixo, começaram a “forrar” a sala do museu com plástico.
“Com esta exposição e respetiva envolvência criada”, a realidade retratada pela lente de Mário Cruz foi enquadrada “de forma imersiva e sensorial”, recorda Susana, que sublinha a adequação da exposição aos preceitos da “nova museologia”. Ao mesmo tempo, a iniciativa provou que o MSML “é cada vez menos um lugar estanque”, assumindo não só “a obrigatoriedade de preservar o passado”, explicou a diretora do museu, “como a própria responsabilidade de emitir alertas, promover reflexões e despertar consciências”, continua a diretora do museu. Uma missão cumprida com sucesso, tendo em conta o considerável número de visitantes (mais de 5500) e o prolongamento da exposição por mais dois meses.
Para a equipa do museu, “a ‘missão’ de criar ‘desassossego’ e veicular uma mensagem fortíssima por via da arte” foi conseguida. Apesar de a exposição ter apanhado parte de um período não letivo, tiveram visitas de muitos ATL e centros de estudo e, no arranque das aulas, “as visitas escolares multiplicaram-se”, contou Susana. “O enquadramento da exposição foi transversal a todos os públicos”, explicou a diretora, “ao consciencializar pela força da imagem e pela imersão do ambiente recriado”.
“Eu caminhei sobre o rio, nunca pensei que pudesse andar sobre um rio de plástico. Isso transforma qualquer pessoa”, recordou Mário Cruz na mesma entrevista ao Público. “Espero que a exposição incomode quem a vir, porque a mim só me interessa a fotografia que incomoda. O ideal era incomodar e transformar.” Acrescentou, ainda, que no caso da poluição ambiental, a “arte tem um papel determinante nas discussões globais”. Deixe-se impressionar pelo trabalho da Cameraleon, especialistas em visitas virtuais:
No momento da desmontagem, “todo o lixo foi criteriosamente selecionado e seguiu para reciclagem”, assegurou Susana Ferreira. Paralelamente, com o pretexto da exposição, o MSML foi sensibilizando o público nas redes sociais para apelar à “mudança de paradigmas de consumo e sustentabilidade ambiental”, rematou. Por fim, deixou um apelo para a campanha solidária de recolha de tampas de plástico para o Rafael, um menino de 5 anos que nasceu com uma paralisia cerebral. Através da Operação Tampinhas da Lipor, poderá conseguir equipamento médico que, de outra forma, seria difícil.
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