Já imaginou o que seria se, numa ida ao supermercado, um em cada três sacos de compras com alimentos fosse directamente para o lixo?
Já imaginou o que seria se, numa ida ao supermercado, um em cada três sacos de compras com alimentos fosse diretamente para o lixo? As estatísticas apontam para uma realidade equivalente: cerca de um terço da comida produzida em todo o mundo, para consumo humano, perde-se ou é desperdiçada entre o processo de colheita e o consumo final, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A situação do desperdício alimentar é alarmante, sobretudo se pensarmos que, ao mesmo tempo, o número de pessoas afetadas pela fome está a aumentar desde 2014.
O desperdício alimentar representa um dos principais desafios na transição para uma economia circular. Além das perdas económicas, afeta a eficiente gestão de recursos naturais esgotáveis, como a água e os solos, e é um dos principais contribuidores para a emissão de gases com efeito de estufa. Os alimentos que vão parar a aterros representam entre 8 a 10% das emissões de CO2 em todo o mundo, mais do dobro das emissões geradas pelo setor da aviação. Nas contas da FAO, se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro maior poluente, a seguir aos Estados Unidos (2º) e à China (1º).
Na União Europeia, mais de 58 milhões de toneladas de comida são desperdiçadas todos os anos, o que representa uma perda de 132 mil milhões de euros, de acordo com dados da Eurostat. E, desta quantidade de comida, a maioria (55%) é desperdiçada nos nossos lares, seguidos pela indústria transformadora (21%), agricultura, restaurantes e similares (9% cada) e, por fim, as cadeias de distribuição (7%).
Em Portugal o número agrava-se: 69% (de um total de quase 2 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados todos os anos) acontece nos lares. Cada português desperdiça em média cerca de 13kg de comida por ano, sem contar com o consumo fora de casa.
É por isso importante combater o desperdício alimentar, com informação e medidas para que todos contribuam para alcançar a sustentabilidade dos sistemas alimentares. Um dos objectivos da União Europeia até 2030 trata-se de reduzir o desperdício per capita em 30%, entre todos os agentes. E uma das grandes mudanças pode ser alcançada com pequenos gestos no quotidiano de cada um, com base em critérios de circularidade. Saiba como:
Se tiver jardim ou mesmo uma pequena horta em casa, saiba que pode transformar o seu desperdício alimentar num fertilizante 100% natural, rico em nutrientes minerais. Desta forma, pode poupar dinheiro em produtos químicos.
A pensar na produção caseira de composto, já existem equipamentos eléctricos, de pequeno porte, nos quais tem apenas que depositar os seus restos de comida e o aparelho faz todo o trabalho por si.
Caso não tenha a possibilidade de atuar em sua casa, encontram-se em expansão alternativas como hortas urbanas ou espaços de compostagem comunitários – uma espécie de contentores onde os habitantes podem depositar resíduos como cascas, pão, alimentos crus ou cozinhados, entre outros, que depois serão transformados num composto semelhante a solo húmido.
Isto porque a partir de 1 de janeiro de 2024, será obrigatória a recolha selectiva de biorresíduos (restos de comida), no seguimento de uma nova diretiva europeia que deve ser adotada por cada Estado-Membro. Neste sentido, em Portugal, algumas autarquias já avançaram, por exemplo, com a disponibilização aos cidadãos de contentores individuais para resíduos orgânicos, entre outras iniciativas. Informe-se junto do seu município.
Ainda antes de chegarem aos contentores, os alimentos podem ser reaproveitados para a confeção de novas refeições. Aproveitar restos de frango assado do jantar juntando à massa para o almoço do dia seguinte é um dos exemplos que certamente já muitos estão familiarizados. Mas deixamos-lhe aqui outras ideias:
Preparar refeições com excedentes pode significar a procura por novas receitas, o que pode enriquecer a experiência alimentar da sua família. Criatividade é a chave!
Aplicar o conceito de circularidade ao desperdício alimentar pode começar pelas nossas escolhas e compras. São já muitos os produtores, espaços de restauração e supermercados que investem em produtos resultantes de alimentos em fim de vida ou promovem a compra de produtos que, de outra forma, iriam parar ao lixo.
Um dos exemplos é a plataforma Too Good to Go, a qual incentiva a aquisição de caixas que contêm toda uma refeição (desde o pequeno-almoço ao jantar), em restaurantes ou outros espaços alimentares, por preços reduzidos. Seguindo a mesma lógica, vários supermercados já disponibilizam também caixas com uma seleção “mais em conta” de frutas e legumes que, pelo aspecto ou pelo amadurecimento, não entram nas cestas de compra.
Preste atenção também aos rótulos, pois, além de encontrar produtos mais baratos devido ao limite do prazo de validade, encontra produtos como compotas, doces, fruta desidratada, molhos ou outros condimentos produzidos através da reutilização de excedentes.
Para mais recomendações de boas práticas para ajudar à luta contra o desperdício alimentar, siga o movimento Unidos Contra o Desperdício, “um movimento cívico e nacional, agregador e educativo, que une a sociedade num combate ativo e positivo ao desperdício alimentar”.