Biliões de detritos de plástico acabam no oceano e está ao nosso alcance travar este flagelo.
A 22 de março, comemorou-se o Dia Mundial da Água. Um recurso essencial que muitas vezes damos como garantido, mas não é. Para além da escassez deste líquido na sua forma potável, enfrentamos um outro grande problema que é a poluição dos meios aquáticos, principalmente por plásticos. Salvar o oceano está ao alcance de todos com pequenos gestos.
Todo o lixo que não é descartado corretamente corre o risco de acabar a sua vida no oceano pela ação das chuvas e dos fluxos de água. Sendo que 80% dos resíduos que entram no oceano são de plástico, estamos a falar de uma longa vida. Na maior parte dos casos, de séculos.
A par do lixo descartado de forma errada, a pesca fantasma (equipamentos piscatórios abandonados) é apontada como uma das grandes culpadas da poluição marinha por plásticos, mas estes dois fatores estão longe de ser os únicos. A montante da chegada de águas ao mar, há várias causas. Num artigo da OrbMedia são enunciados agentes poluidores menos visíveis, nomeadamente, as microesferas de plástico presentes em detergentes e produtos de higiene, os escoamentos industriais, a lavagem de roupa de fibras sintéticas, o despejo de tintas acrílicas em esgotos domésticos ou industriais, e o atrito dos pneus nas estradas.
As Nações Unidas estimam que anualmente entrem nos oceanos mais de oito milhões de toneladas de plástico. É como se um camião fosse descarregado a cada minuto. De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, se tudo continuar como está, em 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixe.
As aves confundem frequentemente este material com alimento, podendo obstruir ou dilacerar o seu sistema digestivo, e vários animais ficam presos ou são mesmo estrangulados em emaranhados de plástico. 100 mil animais marinhos morrem a cada ano por causa do plástico. Porém, o problema vai mais longe na cadeia alimentar.
Ao longo do tempo, o plástico vai-se partindo em fragmentos cada vez mais pequenos, pelo que são ainda mais facilmente ingeridos por animais, podendo percorrer a cadeia alimentar até ao organismo humano.
Os microplásticos, partículas com tamanho inferior a 5 milímetros, absorvem com relativa facilidade contaminantes químicos, produtos farmacêuticos e pesticidas presentes na água. Trata-se de um problema que, embora praticamente invisível a olho nu, assume uma dimensão monstruosa. As Nações Unidas garantem que há 500 vezes mais microplásticos nos mares e oceanos do que estrelas na nossa galáxia.
Estas partículas já foram detetadas em comida (em particular peixes e mariscos), em sal, e em água potável. Sem espanto, já foram encontradas também no trato intestinal humano e até em placentas. Os seus efeitos diretos na saúde humana são ainda pouco conhecidos, mas há estudos que levantam a hipótese de poderem favorecer o desenvolvimento de desregulação hormonal, ganho de peso, resistência à insulina, diminuição da saúde reprodutiva e até alguns tipos de cancro.
Este comportamento é elementar, mas nunca é demais lembrar que o lixo que não segue os fluxos normais de tratamento (reciclagem ou aterro), fica solto na natureza e será eventualmente arrastado pelos ventos e pelas chuvas para cursos de água até chegar ao mar. O plástico em particular, sendo leve, tem extrema facilidade em fazer este caminho, e, uma vez no oceano, é garantido que por lá ficará por várias décadas ou até séculos.
Um saco de plástico demora no mínimo 20 anos a decompor-se. Uma garrafa de água de plástico PET pode levar 450. Pensos higiénicos 500 anos. Embora os dois primeiros exemplos possam ser reciclados, devemos procurar alternativas mais sustentáveis e duradouras, que não exijam a produção de mais objetos. Veja algumas dicas aqui.
O plástico que é reciclado é material que entrou nos ciclos de recuperação e reaproveitamento, evitando, por um lado, a contaminação da natureza, e, por outro, a produção de mais plástico. Enquanto consumidores, devemos privilegiar o plástico reciclado para sinalizar que é fundamental diminuir a demanda por material virgem.
Existe uma aplicação móvel para iOS e Android que facilita a tarefa de identificar produtos livres de microplásticos. Basta fotografar a lista de ingredientes e a Beat the Microbead diz-lhe de imediato se os produtos contêm ou não microplásticos.
Durante as lavagens, as roupas sintéticas, como as de nylon ou poliéster, libertam microfibras de plástico que são enviadas para os esgotos e daí fazem o seu caminho até ao oceano. Prefira vestuário em algodão e outras fibras naturais. Quando lavar roupas de material sintético, use ciclos mais curtos e com menor ação mecânica – um programa de torcer mais reduzido, por exemplo.
O ideal será utilizar tintas ecológicas, contudo, na impossibilidade de o fazer, tenha algumas precauções. Não compre embalagens maiores do que o que realmente precisa. Várias marcas oferecem nos seus sites calculadoras para ajudar. O que restar pode doar a amigos, vizinhos, ou a uma instituição de solidariedade social. Se o que sobra dentro da embalagem ou lata é residual, pode colocar no ecoponto amarelo, desde que tampe bem.
Sabemos bem que os pneus dos automóveis e de outros veículos se desgastam ao circular, mas nem sempre temos consciência de que a borracha que deixa de existir nos pneus não desaparece. O atrito entre os pneus e o asfalto liberta cerca de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilómetros percorridos, que, sendo arrastado pelo vento e pelas chuvas, também chega rapidamente ao oceano.
É uma ação simples e que faz toda a diferença!
O Dia Mundial da Água realiza-se todos os anos a 22 de março, na sequência de uma resolução da Organização das Nações Unidas em 1992, com o objetivo de consciencializar as populações para a importância deste bem.
Em 2021, sob o tema “Valorizar a Água”, realiza-se neste dia a campanha a H2Off – Hora de fechar a torneira. Sempre que abrimos a torneira, damos por adquirido que vamos ter água. Esquecemo-nos do quanto este bem é escasso. Por isso, entre as 22 e as 23 horas de 22 de março, somos todos convidados a não abrir as torneiras, para nos recordarmos de como a água é imprescindível nas nossas vidas.
Saiba mais sobre as iniciativas associadas a este dia no site oficial.