Eventos climáticos cada vez extremos e a inação dos governos estão a provocar um novo tipo de ansiedade, sobretudo entre os jovens
As mudanças climáticas estão a causar cada vez mais episódios climáticos extremos. Secas, cheias, incêndios, entre outros eventos climáticos são cada vez intensos e trazem consigo a perda de biodiversidade e outros desafios para o meio ambiente.
A consciência sobre as consequências das mudanças climáticas faz soar o alarme para a extinção da vida como a conhecemos. Além disso, a falta de ação dos governos mundiais tem perpetuado sentimentos de impotência e preocupação com o futuro do planeta e gerações vindouras.
Em casos mais graves, estas preocupações têm levado a sentimentos de desespero, preocupação constante e pânico. E o fenómeno foi já apelidado pelos psicólogos como “ansiedade climática” – ou eco-ansiedade.
Segundo Teresa Pereira, investigadora de doutoramento do Laboratório de Desenvolvimento e Psicopatologia do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, a eco-ansiedade constitui um “conjunto de respostas emocionais, como o medo ou a preocupação, que têm um impacto nos indivíduos que pode ser ou mobilizador, no sentido de os envolver na luta climática, ou paralisante”.
Ainda assim, a investigadora Teresa Pereira refere que a ansiedade climática não é considerada uma condição clínica, uma vez que associar a ansiedade climática a uma condição clínica equivale a “desresponsabilizar a sociedade por um problema que é coletivo”.
É sim o resultado de um medo crónico em relação ao futuro e pode deteriorar os já atuais problemas de saúde mental e física, causando por exemplo o aumento da pressão artéria, tremores, tonturas ou um batimento cardíaco rápido.
Além disso, a ansiedade climática pode causar alterações de sono e de apetite, dificuldade nas relações interpessoais e um bloqueio ou alheamento em relação a responsabilidades pessoais, profissionais ou académicas.
Comparativamente com a ansiedade que sentimos no dia-a-dia, a eco-ansiedade pode ser mais difícil de controlar, segundo Teresa Pereira. Enquanto a primeira “trata-se de uma resposta adaptativa”, à qual a gestão de emoções negativas pode ajudar, no caso das alterações climáticas, “estamos a falar de algo que foge muito ao nosso alcance individual. E, por isso, torna-se muito mais difícil dar conforto e sentido de controlo à pessoa”.
Para já, sabe-se que a ansiedade climática afeta sobretudo os mais jovens. Um estudo da Universidade de Bath, que promoveu inquéritos a jovens de 10 países, incluindo Portugal, apurou que 59% dos jovens estão “extremamente preocupados” com as alterações climáticas; 45% diz que os sentimentos sobre as alterações climáticas afetam negativamente as suas vidas quotidianas.
Além disso, 55% considera que vão ter menos oportunidades do que os seus pais, devido às alterações climáticas, e 75% acha que “o futuro é assustador”. Em Portugal, esta percentagem sobe para 81%, concluindo-se que os jovens em Portugal apresentam maiores níveis de preocupação com as alterações climáticas.
Note-se que, em 2023, 6 jovens portugueses levaram 32 países (incluindo Portugal) perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos por considerarem que os Governos não estão a fazer o suficiente para combater as alterações climáticas e garantir o seu futuro.
Para atenuar os efeitos da ansiedade climática, especialistas aconselham a: