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ESG: Isto anda tudo ligado

– João Cruz, Head of Operations BCSD Portugal

A sigla ESG – Ambiente (Environment), Social, Governança – tem vindo a tornar-se parte do vocabulário incontornável no meio empresarial. Uma pesquisa rápida no Google Trends mostra-nos máximos de popularidade deste termo nas pesquisas em 2023, tanto em Portugal como a nível global. Sendo fácil associar a relevância do tópico às pressões regulamentares – que são um desafio real e imediato para inúmeras empresas – é indispensável olhar a montante destas e encarar o paradoxo em que a sociedade se encontra: nunca a humanidade viveu tanto e tão bem e nunca esteve tão ameaçada.

Os progressos científicos e tecnológicos dos últimos 200 anos permitiram a boa parte da população mundial aceder a níveis de qualidade de vida ímpares na história da espécie humana e criaram condições para um aumento demográfico exponencial. Contudo, esses desenvolvimentos deram-se a custo de um impacto ambiental antropogénico, também ele sem precedentes, e a um agravar das desigualdades socioeconómicas.

Ratificado em 2016 e assinado por 196 países, o Acordo de Paris traça como objetivo um aumento máximo da temperatura média global face aos níveis pré-industriais de 1,5ºC. Este objetivo foi definido – com base em evidências científicas – como forma de mitigar os efeitos mais impactantes das alterações climáticas, dos danos ecossistémicos ao aumento da frequência de períodos de secas e cheias extremas, passando pelo aumento do nível médio do mar (para quem tiver interesse, o Intergovernmental Panel on Climate Change tem um relatório dedicado a este tema). De acordo com os dados da ONU, em 2023 este valor atingiu já os 1,45ºC. 

O World Economic Forum apresentou em janeiro os principais riscos identificados para os próximos anos. Numa previsão a 2 anos, o top-10 de riscos inclui os fenómenos climáticos extremos e a poluição como riscos ambientais. Num cenário a 10 anos, juntam-se a estes as mudanças críticas aos sistemas da terra, a perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas e a escassez de recursos naturais.

A crise climática é, portanto, uma realidade tangível com tendência a agravar-se, e já sentimos as suas consequências a nível ambiental, numa primeira instância, mas com repercussões óbvias a nível social e económico.

Oportunidades de inovação

Como canta Sérgio Godinho, “isto anda tudo ligado”. Por isso mesmo, a mudança necessária para reagir à adversidade terá de ser global e em várias frentes. E as empresas terão um papel determinante neste desiderato. O ESG, na profundidade das suas três componentes, terá de ser o tripé que suporta o desenvolvimento económico sustentável. E as oportunidades para inovação, transformação e criação de novos modelos de negócio que levem em conta não apenas o lucro, mas também as pessoas e o planeta, são imensas. É um desafio complexo e multifatorial, o que dificulta a navegação das empresas, por mais bem-intencionadas que sejam.

É neste contexto que as redes empresariais surgem como apoio e agregador de vontades. O BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, ligado à rede global do World Business Council for Sustainable Development, reúne mais de 180 empresas nacionais (micro, PMEs e grandes) de múltiplos setores com um mesmo propósito: transformar a economia em benefício das pessoas e do planeta. Acreditamos que as empresas – e as pessoas que as constituem – devem estar na linha da frente do processo de transição para a sustentabilidade, tomando a iniciativa, abrindo caminhos e influenciando as políticas públicas. Para isso, o BCSD Portugal atua em duas grandes vertentes: a formação e a colaboração interempresarial.

Sendo a sustentabilidade uma disciplina recente e em constante atualização, torna-se fundamental capacitar as empresas, através dos seus colaboradores. A Academia BCSD Portugal acompanha as tendências emergentes e promove formações a vários níveis, que visam dotar os profissionais dos conhecimentos e ferramentas essenciais para despertar para a sustentabilidade, entender o ESG nas suas várias vertentes e desenhar estratégias de sustentabilidade adequadas às suas áreas de negócio.

Por outro lado, aproveitando a mais-valia que a diversidade de associados e o seu conhecimento acumulado representam, o BCSD Portugal organiza áreas de trabalho em que os seus membros se reúnem para explorar tópicos fundamentais, como Clima e Energia, Economia Circular e cadeia de valor, Reporte e Finanças Sustentáveis, Biodiversidade e Diversidade Equidade e Inclusão. Criam-se assim espaços para aprofundamento de conhecimento, partilha de boas práticas e colaboração inter-empresarial. Além de permitir aos membros capitalizar através do know-how dos pares, as sinergias desenvolvidas possibilitam também a co-criação de recursos disponíveis para qualquer empresa, como os recém-lançados Guias de Rastreabilidade na Cadeia de Valor e de Riscos Climáticos, ou como Ferramenta Jornada 2030, que permite analisar a maturidade em ESG.

É nesta conjugação de esforços de pessoas e empresas com propósito, que o BCSD Portugal age em prol da sustentabilidade, num mundo composto de mudança. E nesta altura da história, mais do que trocar as voltas ao mundo, é crucial trocarmos as voltas à forma como encaramos os papéis habituais. Indivíduos, empresas e governos. O ESG terá de passar de vocábulo a estratégia, a todos os níveis e ninguém pode ficar de fora.

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