Só em Portugal são descartadas 200 toneladas de roupa por ano. Mas já há várias alternativas para combater a insustentável leveza da fast fashion
A indústria têxtil é uma das que enfrenta mais desafios em termos de mudança de paradigma para o caminho da sustentabilidade. Isto resulta de conceitos como o fast fashion, que tem levado a um aumento progressivo da produção em grande escala de vestuário e potenciado hábitos de consumo que promovem uma grande rotatividade no guarda-roupa.
A Comissão Económica das Nações Unidas, citada pela Recicla.pt, conjetura que 40% das roupas que os europeus têm no armário não são usadas. Também a Agência Europeia para o Ambiente estima que cada europeu produz 654 quilos de CO2, pelo simples facto de comprar e descartar peças de vestuário.
Só em Portugal, são descartadas 200 toneladas de roupa por ano, segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Esta roupa acaba em aterros ou encaminhada para incineração. Os resíduos têxteis representam cerca de 4,65% de todos os resíduos produzidos no país.
Comprar mais em quantidade que qualidade, para que não se repita tantas vezes o outfit, é um comportamento aceitável nas nossas sociedades, mas que implica um elevado custo para o planeta. Ou seja, grandes quantidades de lixo, desperdício de recursos, contaminação do ambiente e precariedade da mão-de-obra, enquanto se tenta fazer face à grande demanda mantendo os baixos preços.
Uma grande parte das roupas que são descartadas acaba em aterros ou incineração. O que são ambas práticas prejudiciais para o meio ambiente. A Comissão Europeia estima que o impacto em emissões de dióxido de carbono é de 3,1Kg por cada quilo de roupa.
Sabemos também que uma t-shirt de algodão pode demorar entre 10 a 20 anos a decompor-se e cerca de 100 a 300 anos se for de tecido sintético.
A forma mais fácil de se descartar da roupa que já não usa ou gosta seja talvez dar a familiares ou amigos. No entanto, muitas vezes dar como presente algo que já não gostamos, pode soar de mau gosto. Talvez por isso muita gente prefira doar a quem realmente precisa. Há inúmeras instituições que aceitam roupas usadas e as fazem chegar a quem precisa. A Cruz Vermelha é um desses exemplos.
Em alternativa, têm à disposição muitos contentores de roupa e sapatos, que encontramos muitas vezes junto de supermercados ou noutros locais. E se já se perguntou o que acontece a esta roupa, a Recicla.pt ajuda a esclarecer. Segundo a página, a gestão desses equipamentos está entregue a empresas como a Ultriplo ou a Humana, que recolhem e fazem uma triagem. O que não estiver em condições de ser reutilizado, segue para reciclagem e podem vir a ser aproveitados para aplicações em pavimentos e revestimentos, por exemplo. O restante para lojas, por exemplo, ou instituições.
“Os resíduos têxteis possuem uma amplitude bastante vasta de aplicação, principalmente no contexto de upcycling e de reciclagem”.
Responsável de comunicação da Ultriplo, Jorge Dias, à Recicla.pt
Os contentores espalhados pelo país têm diferentes cores, com significados distintos:
#Amarelo: aqui pode depositar roupa acondicionada em sacos, que é encaminhadas para lojas sociais e instituições, quando estão em bom estado.
#Verde-escuro: pode depositar roupa, calçado e têxtil de lar. Parte das doações é vendida nas lojas de segunda-mão da Humana em Portugal (19%), outra reutilizada fora de Portugal nas centrais de preparação em Espanha e na Bulgária (40%) e a restante é vendida a empresas de reutilização e reciclagem têxtil (41%).
#Branco: roupa, calçado, brinquedos e têxteis de lar. Servem parcerias específicas com câmaras municipais locais, juntas de freguesia, associações, empresas e escolas. Em alguns casos pode ser agendada a recolha ao domicílio.
#Azul-claro: vestuário e têxteis de lar, calçado, complementos (sacos, carteiras, gorros, etc.) e brinquedos, fechados em sacos. A empresa responsável trabalha em parceria com os municípios e ajuda instituições de solidariedade social das regiões de Aveiro, Porto, Viana do Castelo.
#Verde-alface: roupa, calçado e brinquedos. Parte do stock é armazenado para responder a situações de emergência e os fundos dos bens reutilizáveis (cerca de 60%) são doados a instituições dos concelhos. Cerca de 30% dos bens são reciclados e 10% são incinerados.
O conceito de upcycling consiste em dar uma nova vida, de forma criativa, aos nossos resíduos. Neste sentido, se já não gosta das peças de roupa, mas os tecidos ainda se mantêm em bom estado, pode sempre dar largas à imaginação e transformar as suas peças de roupa noutros tipos de têxteis ou apenas dar-lhes um novo toque especial.
Plataformas como a Vinted ou a reCloset são espaços ideais para conseguir expor toda a roupa da qual se pretende livrar, perante um público interessado em comprar em segunda mão. A parte boa é que pode ganhar um dinheiro extra. Informe-se também junto de lojas físicas de segunda mão, costureiras ou designers de moda sustentável. Pode ser que lhe ofereçam também uma vantagem económica.
Em Portugal, encontra ainda outras projetos como a FreeCycle ou o Mercado de Trocas, que promovem a troca de roupas mas sem pagamentos envolvidos.