No “esqueleto do mar”, o lixo transforma-se em arte

Xandi Kreuzeder, João Parrinha e Luis de Dios: amigos, surfistas e artistas por uma causa. Fomos conhecer os Skeleton Sea.
Skeleton Sea Spider Crab Trindade

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Fizemos algumas perguntas a Xandi Kreuzeder, o surfista alemão que vive há alguns anos na Ericeira – onde fica a base dos Skeleton Sea:

Quando abordei o Xandi no Porto, perguntei se era o “cérebro” do “corpo do projeto”. Mas, na verdade, o que eu quero saber é se a “alma” já existia antes do próprio “esqueleto” [Skeleton Sea é “Esqueleto do Mar” em português]. Pelo que percebi, pelo menos o Xandi e o João Parrinha são amigos de longa data e há anos que fazem ‘surf trips’ juntos.

Eu costumava viajar muito com os meus velhos amigos surfistas, João Parrinha e Luis de Dios. Uma vez, antes de 2005 (quando começamos com o projeto), fomos para um surf spot bastante remoto, na ilha de São Jorge, nos Açores. Caminhamos durante horas ao longo de um caminho onde só circulavam os animais. De um lado, o Atlântico de um azul profundo. Do outro lado, as belas e verdes colinas, sem qualquer tipo de construção. Só vimos uma coisa bizarra… uma faixa colorida de lixo plástico ao longo das rochas, até onde a nossa visão conseguia chegar. O oceano estava constantemente a trazer lixo da costa e o lixo estava a acumular-se. Foi então que nasceu a ideia de começarmos um projeto artístico que transformasse o lixo em arte e consciencializasse as pessoas para mantermos os oceanos limpos. Na viagem seguinte que fizemos juntos, a Fuerteventura (2005), começámos a construir as nossas primeiras esculturas, que, de certa forma, nos faziam lembrar a Skeleton Coast, na Namíbia, que tem imensos destroços de naufrágios… e foi assim que surgiu o nome, Skeleton Sea.

DR Skeleton Sea. Xandi, João e Luís junto ao ‘Spider Crab’ da Trindade

Este projeto é “uma missão sem fim”?

Parece que sim… mas, pelo menos em alguns lugares como a Ericeira, as coisas estão a mudar para melhor. Há limpezas de praia quase semanalmente, organizadas por pequenos grupos como o Ocean Hope e nós, Skeleton Sea, também organizamos algumas acções. Neste momento, esta zona de costa tem-se mantido limpa graças a estes esforços locais.  

No geral, as pessoas parecem não ter uma perceção muito realista do que está a acontecer, possivelmente porque não estão dispostas a ir até às praias recolher o lixo e refletir sobre a proveniência desse lixo… É preferível promover ações com crianças? Os resultados são mais eficazes?

As crianças são o nosso futuro e é verdade que são muito mais abertas e têm uma percepção diferente das coisas. As pessoas estão muito ocupadas, com um ritmo de vida frenético. Tudo precisa de ser confortável e conveniente. As pessoas sabem dos problemas, mas, ainda assim, apenas algumas assumem a responsabilidade e dedicam algum tempo e esforço para ajudar, reciclar, reutilizar… parece muito demorado ou complicado. Os supermercados também sabem disso e, claro, possibilitam que as coisas sejam o mais convenientes possível sem assumirem grandes responsabilidades … Esse é o caminho para o desastre, a ganância é o principal problema, não há compreensão nem educação.

Skeleton Sea
DR Skeleton Sea

Os Skeleton Sea desenvolveram um projeto educativo nas escolas da Ericeira. Foi uma coisa pontual, naquele ano lectivo, ou continuam a promover atividades com escolas?

O nosso programa educativo chama-se Skeleton Sea Seedlings e o principal objetivo do projeto é sensibilizar os miúdos para a poluição dos oceanos. Levamos as crianças para a praia e a nossa bióloga marinha, Ruth Candeia, explica tudo sobre os oceanos e as consequências da poluição. Explicamos também que todos podem ajudar, que são parte da solução do problema. Durante a limpeza da praia, explicamos o tipo de lixo que vão encontrando e de onde vem, depois transformamos o lixo em pequenas peças de arte, nas oficinas. As crianças percebem que podem ser criadas coisas bonitas a partir do lixo, reutilizando e reciclando. As crianças mudam os hábitos diários, estão mais conscientes dos problemas que a poluição gera, da separação do lixo… Estamos felizes por trabalhar com elas.

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Vídeo sobre o projeto educativo Skeleton Sea Seedlings

Sobre o significado do “Spider Crab” da Trindade, no Porto: acha que as pessoas realmente param para pensar sobre os materiais que vocês reutilizaram e sobre a mensagem que estão a tentar passar, de preservação dos oceanos e combate à poluição?

Algumas pessoas sim, de certeza que vão pensar um bocadinho sobre isso e alguns acabam por ir procurar mais sobre o nosso projeto. Sobre esta intervenção em específico, tivemos alguma cobertura mediática e a mensagem foi passando com um alcance significativo. 

Para quem quiser saber mais sobre o projeto, há um documentário disponível para alugar online, The Tides of Tomorrow. Partilhamos o trailer:

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