É o “fruto do outono” e Portugal é um dos maiores produtores na Europa, com uma grande variedade de castanhas nacionais. E até as cascas têm um grande valor na nossa cultura
Estamos na altura do ano em que se acendem os fogareiros para assar castanhas. Nas ruas ouve-se o tradicional “quentinhas e boas” junto à banca de castanhas, que se avista ao longe pelo fumo branco que corta o ar frio e nos dá uma sensação de aconchego.
Planeiam-se os magustos, nas escolas, nas empresas, entre amigos e famílias. Mas que fazer ao amontoado de cascas que sobre no final do convívio?
O valor das castanhas vai muito mais além do seu uso culinário. As cascas de castanha são ricas em ingredientes bioativos e os seus extratos apresentam um elevado valor biológico no tratamento de doenças, com ação antioxidante, anticancerígena, antibacteriana, anti-inflamatória, hipoglicemiante e no tratamento da obesidade.
Em Portugal, a grande proximidade com este produto – não fosse este país um dos maiores produtores na Europa, com várias variedades autóctones -, é visível também na integração cultural e investigação científica para a valorização dos seus subprodutos.
Por um lado, temos como exemplo os bordados do Marvão que fazem parte da riqueza cultural da região e que têm a particularidade de se configurarem com recurso aos resíduos de castanha.
Por outro, temos o reaproveitamento das cascas na indústria, para produção de energia, por exemplo, como fez a empresa Sotergel, através de um sistema de reciclagem que produz gás a partir da casca da castanha que é transformada pela própria empresa.
Outros exemplos em Portugal de aproveitamento dos subprodutos da castanha vão desde a indústria do vinho (para envelhecimento), produção de cerveja, aos licores (constitui uma fonte alternativa de açúcares) até ao alimento de animais, já que a aplicação de subprodutos da castanha e seus extratos na sua dieta produz efeitos desejáveis na qualidade da carne e na sua suscetibilidade à oxidação.
De forma mais simples, é possível também reutilizar as tão ricas cascas de castanha em sua própria casa, seja para adorno, defumação de bebidas ou para própria alimentação.
Deixamos-lhe algumas ideias que pode aproveitar no rescaldo do seu magusto:
É uma das dicas do Programa Nacional para a Alimentação Saudável: basta colocar todos os ingredientes das castanhas numa liquidificadora e triturar até obter a consistência pretendida. Esta é uma opção que permite reaproveitar quaisquer sobras de castanhas numa bebida alternativa, que é também uma excelente fonte de energia isenta de glúten, pobre em gordura e que não contém colesterol. Para além disso, é fonte de vitamina C e com quantidades “apreciáveis” de cálcio, ferro, magnésio, potássio, fósforo, zinco, cobre, magnésio, selénio e fibras, como explica a mesma fonte.
A técnica de bordados utilizada no Marvão é simples e resulta em quadros bonitos que fazem lembrar a casa da avó. Faz-se o desenho em papel vegetal, decalca-se o desenho para o tecido, exceto as partes que serão preenchidas com as cascas. Depois, bordam-se as linhas decalcadas e cortam-se as cascas com o formato pretendido, para encaixar no seu desenho. Essas são fixadas ao tecido com pontinhos. Quando terminado deverá ser emoldurado quanto antes, pois as cascas da castanha poderão secar e partir.
Saiba mais com quem realmente entende do assunto:
Se não tem jeito com linhas e agulhas, há outras formas de aproveitar as cascas de castanha para decorar a sua casa. Pode pintá-las, com as suas cores preferidas, juntar com pedras e folhas secas e colocá-las num recipiente de vidro que encaixe em harmonia com a sua decoração de casa. Esta solução pode também trazer um aroma outonal a sua casa. Se quiser ir um pouco mais longe, pode sempre produzir um aromatizador caseiro, através do extrato deste subproduto.
As folhas do castanheiro, assim como as castanhas, são ancestralmente aproveitadas para chás de inverno ou mesmo na primavera, devido a sua ação eficaz contra a tosse e hemorragias. Mas há outras formas de aproveitar as cascas de castanhas em bebidas. Nomeadamente através da defumação. Basta queimar um punhado de cascas, deixar o fogo apagar e prender o fumo num copo. Pode juntar gelo, água com gás, de sabores ou uma bebida alcoólica a seu gosto. E está pronta, uma bebida diferente, com uma técnica usada nos mais sofisticados bares. Pode ainda adicionar hortelã ou outra erva aromática, para intensificar o sabor.
Veja um exemplo:
Estes são vários exemplos através dos quais nos livramos do amontoado de cascas que sobram dos magustos. Afinal, este é um produto rico em propriedade que fortalece a nossa saúde e reaproveitá-lo significa também honrar uma longa tradição cultural portuguesa.